Irineu

Irineu de Lião, Santo (c. 130-200)

Nasceu na Ásia Menor, provavelmente em Esmirna. Encontramo-lo como bispo da Igreja de Lyon na perseguição de Marco Aurélio, durante a qual, segundo a tradição, foi martirizado sem que possamos precisar a data.

Das diferentes obras que Eusébio atribui a Santo Irineu somente nos chegaram alguns fragmentos (PG 7,1225-1274). Permanece, no entanto, uma grande obra contra o gnosticismo, intitulada Refutação e desmascaramento da falsa gnose, conhecida comumente como Adversus haereses, versão latina do original que data do séc. IV.

Irineu preocupou-se em defender a doutrina cristã frente ao gnosticismo (v. gnósticos).

— A verdadeira gnose é a que nos transmitiram os apóstolos da Igreja. Mas essa gnose não tem a pretensão de superar os limites do homem, como a falsa gnose dos heréticos.

Deus é incompreensível e não pode ser pensado. Todos os nossos conceitos são inadequados. “É melhor não saber nada, mas acreditar em Deus, e permanecer no amor de Deus, do que arriscar-se a perdê-lo com pesquisas sutis” (Ad. haer., II, 28, 3).

— O que nós podemos conhecer sobre Deus, podemos conhecê-lo somente por revelação: sem Deus não se pode conhecer Deus.

— A blasfêmia mais grave dos gnósticos é afirmar que o criador do mundo não é Deus, mas uma emanação dele.

— Afirma a igualdade de essência e de dignidade entre o Filho, o Espírito Santo e o Pai, frente à doutrina gnóstica de que o logos e o Espírito são cones subordinados. Não se pode admitir a emanação do Filho e do Espírito, do Pai. A simplicidade da essência divina não permite tal separação.

— O homem é composto de alma e corpo, contra a distinção gnóstica de corpo, alma e espírito. O espírito é somente uma capacidade da alma, pela qual o homem chega a ser perfeito e se constitui em imagem de Deus. O corpo, assim como a alma, é uma criação divina e não pode, portanto, causar o mal à sua natureza. A origem do mal está no abuso da Uberdade, e é fruto não da natureza, mas do homem e de sua escolha.

— O bem conduz o homem à imortalidade, que é concedida à alma por Deus, mas que não é intrínseca à sua natureza. O mal é castigado com a morte eterna. Também os corpos ressuscitarão, mas o farão na nova vinda de Cristo, que se verificará depois do Reino do anticristo.

A principal contribuição de Irineu foi ter lutado contra o gnosticismo, ter servido de ponte entre a teologia oriental (grega) e a ocidental (latina).

Uma segunda obra de Santo Irineu chegou-nos através de uma tradução armênia recentemente encontrada. Intitula-se Demonstração da pregação apostólica. Nela se enfatizam os elementos principais da Igreja: a) A verdadeira Igreja está baseada na tradição apostólica, b) Essa tradição pode ser comprovada em todas as Igrejas do mundo, c) Essa tradição encontra-se no Credo dos Apóstolos, que contém o Antigo e o Novo Testamento. Irineu é um dos primeiros que falam do NT como fonte de no mesmo nível do AT.

BIBLIOGRAFIA: Obras: PG 7, 1225-1274; A. Orbe, Antropologia de San Ireneo (BAC); Id.; Parábolas evangélicas en San Ireneo (BAC), 2 vols. (Santidrián)