conhecimento das realidades superiores

Em seu tratado sintético da Suma Teológica, Tomás de Aquino distingue os modos do conhecimento intelectual e humano conforme o grau de elevação dos objetos que pode tomar em consideração: as coisas materiais que estão abaixo dele, a alma que está no seu nível, as substâncias espirituais que se encontram mais elevadas. Resta-nos dar algumas indicações sobre este último tipo de conhecimento. Tomás de Aquino considera sucessivamente a caso do anjo (q. 88, a. 1 e 2) e o caso de Deus (q. 88, a. 3).

O conhecimento do anjo pelo homem. Nos artigos indicados, a exposição da doutrina vê-se complicada pela discussão das opiniões de diversos comentadores, Averróis em particular, para quem a felicidade mesma do homem estaria no conhecimento das substâncias separadas. Concluiu-se positivamente: 1. que no estado presente não podemos captar por meio de nosso intelecto as substâncias imateriais em si mesmas; 2. que é possível, pela analogia das coisas materiais, elevarmo-nos a um certo conhecimento indireto .e imperfeito de sua natureza. Tudo isto é claro para quem admite a teoria geral precedentemente exposta. É claro, por outro lado, que não temos a experiência direta dos espíritos. Em seu tratado dos anjos, Tomás de Aquino estudará o problema da comunicação que pode haver entre os espíritos puros e chegará a conclusões positivas. Mas o que então diz não pode convir ao caso da alma humana em seu estado presente de encarnação.

O conhecimento de Deus pelo homem. Se não podemos atualmente captar, por meio de nossa inteligência, as substâncias espirituais criadas, é claro que menos ainda podemos atingir um conhecimento próprio e direto de Deus. Assim nossa inteligência não é a faculdade do divino.

Contudo, a partir das coisas sensíveis, por analogia, e segundo a via de “eminência” e de “remoção”, que os teólogos conhecem, ser-nos-á possível chegar por nós mesmos a um certo conhecimento de Deus: de sua existência e, muito imperfeitamente, de sua natureza e de suas perfeições. Ao metafísico compete precisar como se pode chegar a isto. Baste-nos aqui abrir, para nossa inteligência, essas perspectivas superiores. (Gardeil)