Torá

Nos termos da tradição rabínica, a revelação da Torá era acompanhada de uma outra, essencialmente oral («Torá oral»), a qual é como que uma primeira interpretação indispensável da Torá escrita. O ensino da Torá oral foi recolhido mais tarde nos documentos da tradição rabínica antiga. As duas Toros (plural de Torá) são consideradas no mesmo pé de igualdade como normativas para a vida do povo judeu, sendo o elemento constitutivo constituído aliás, a este respeito, pelas interpretações dadas pela Torá oral. A Torá, no seu conjunto, sendo considerada como expressão autêntica da vontade de Deus, leva o seu próprio termo a tomar igualmente — mas não em primeiro lugar — o sentido de «Lei».

Numa tal perspectiva, os livros proféticos da Bíblia e os Hagiógrafos não são, pelo seu lado, mais que os desenvolvimentos do ensino da Torá, de tal modo que se pode dizer que, de uma certa maneira e quanto aos elementos essenciais, estes foram igualmente já revelados a Moisés do Sinai. [CTJ]


Esta Torá, esta lei, é evidentemente, no sentido restrito, o tesouro das «Tábuas» sagradas — o Decálogo, os dez Mandamentos burilados na pedra pelos próprios dedos de Deus — entregue a Moisés; mas é também, no sentido mais amplo, todo o conjunto da Lei Escrita, da Torá escrita, que excede largamente o Decálogo até englobar os cinco livros do Pentateuco e mesmo o conjunto dos Profetas e Hagiógrafos.

A Torá escrita contém já em si uma revelação divina completa. Mas, além da tradição, outros livros bíblicos foram necessários por causa da incapacidade de Israel em assenhorear-se do conjunto de uma tal imensidade de riquezas. Lemos num Midrash: «Se Israel tivesse sido digna (da Torá), a revelação contida nos livros proféticos e nos hagiógrafos tinha sido inútil.»

No entanto, por causa deste caráter fundamental da Torá (mesmo reduzido aos cinco primeiros livros da Bíblia, mas considerados como a base por excelência da revelação), os Profetas e Hagiógrafos não trazem nada em si que não se encontre já lá contido.

Decálogo, Pentateuco, Profetas e Hagiógrafos, tal é a Lei Escrita que não se contenta em abrir o espírito humano às realidades que o transcendem mas permanece antes de tudo o Testemunho da Aliança.

Ora esta aliança não seria conhecida sem o cumprimento dos mitzwot que se encontram contidos na Torá, sem uma permanência na história dos homens: ela aparece, portanto, como que marcada por um caráter essencialmente normativo. [CTJ]