Teofano o Recluso — Conselhos aos Ascetas
As Virtudes (arete)
Lutar contra os vícios (kakia) e demônios (diabolos) é apenas uma parte do combate espiritual (agon). A ascese (askesis) do monge, como toda a ascese cristã, é uma ascese de conquista. “Guardar-se da fétida imundície das faltas graves, que o Senhor abomina, não é suficiente se não se adquire, pela pureza (katharotes) do coração (kardia) e a perfeição (katartismos) da caridade (agape) ensinada pelo Apostolo Paulo, o bom odor das virtudes, que fazem suas delícias”. A aquisição e a prática das virtudes é um dos elementos essenciais da perfeição monástica. Por elas o homem é restaurado em sua condição primitiva, original, e disposto para a glória eterna do céu. Calro que vencer perfeitamente a epithymia, o apetite concupiscível, com sua triple hoste, formada de glutonice (gastrimargia), fornicação (porneia) e avareza (philargyria), ou o amor ao dinheiro (pleonexia), equivale a adquirir a sophrosyne, termo cujo conteúdo vai além de nossa “castidade”); e dominar as paixões (pathos) do thymos, apetite irascível, isto é, a tristeza (lype), a acédia (akedia), a ira (orge), a vanglória (kenodoxia) e o orgulho (hyperephania), conduz automaticamente à possessão da praotes, quer dizer, da doçura ou mansidão, que os antigos concebiam como a culminação da luta espiritual (agon). Mas também o contrário é certo e, com segurança, mais recomendável ao olhos dos monges antigos. excelente meio de combater um vício é exercitar-se na virtude contrária, até adquiri-la por completo. Na realidade, o famoso método inaciano (vide Inacio de Loyola) do agere contra era conhecido e recomendado pelos primeiros mestres do monacato. ssimpor exemplo, o ensina Filoxeno de Mabbug em uma lista de paixões que complicam enormemente a clássica sobriedade (nepsis) dos oito logismoi evagrianos (vide Evagrio), mas que é também muito reveladora do forte espírito de contradição às tendências pecaminosas ou julgadas simplesmente contrárias à vida ascética, que segundo nosso mestres, deviam animar aos atletas do deserto:
preparemos contra cada uma das paixões o remédio que é o contrário; conta a dúvida, a fé (pistis); contra o erro, a verdade (aletheia); contra a suspeita, a certeza (parrhesia); contra a falsidade, a simplicidade; contra o engano, a sinceridade; contra a opacidade, a nitidez; contra a dureza, a doçura; contra a crueldade, a benignidade; contra o desejo corporal, o desejo espiritual; contra o prazer (hedone), o sofrimento; contra a alegria do mundo, a alegria de Cristo; contra as canções profanas, os cânticos espirituais; contra os gracejos, os gemidos e o pranto (penthos); contra a intemperança (epithymia), o jejum; contra as bebidas embriagadoras, a sede da discrição (diakrisis); contra o ócio, o trabalho (prkatike); contra as delícia, a austeridade; contra o prazer carnal, o prazer dos pensamentos espirituais…