Nicetas Stethatos — Capítulos Práticos
31. A aparência externa da face muda de acordo com o estado interior da alma: qualquer que seja a atividade noética da alma, estará refletida na face. Disposta e modificada de acordo com os pensamentos dentro da alma, a face brilha quando o coração rejubila na emergência de bons pensamentos e em sua meditação sobre Deus, mas desaba e se torna sombria quando o coração é amargurado pelos pensamentos inaturais. Em ambos os casos, o que está acontecendo é bastante evidente àqueles nos quais os órgãos de percepção da alma estão bem treinados. Ou é uma mudança trazida pela «mão direita do Altíssimo» (Sal 77,10, LXX), e isto é óbvio a eles porque é algo familiar e querido a eles pelos quais nascem no Espírito e se tornam luz e sal para outros próximos a eles (cf. Mt 5,13-14); ou então é uma mudança trazida pela discórdia dos poderes do mal e o tumulto de nossos pensamentos, e isto também é evidente a eles, posto que resistem a tal mudança, a marca da imagem do Filho de Deus dentro deles tendo sido polida ao mais alto grau pelos rais da graça divina.
32. A alma recebe seja bençãos ou penalidades e punição de acordo com suas atividades interiores. Se se ocupa a si mesma com coisas divinas e trabalha o chão da humildade, lágrimas caem sobre ela como a chuva dos céus, e cultiva o amor por Deus, fé e compaixão pelos outros. E quando nesta maneira a alma é renovada na beleza da imagem de Cristo, se torna uma luz para outros; atraindo sua atenção com os raios de sua virtude, as inspira a glorificar Deus. Mas se a alma devota a si mesma a matéria mundanas e meramente humanas, mexendo e agitando as águas fétidas do pecado, alimenta ódio e repele o que é bom e belo. Deformada desta maneira de acordo com a imagem mundana e feia do homem decaído, se torna uma coisa de escuridão para outros; e através de sua conversa maligna e depravação corrompe as almas imaturas e frágeis, induzindo-as a blasfemar Deus. Assim a alma recebe sua recompensa de acordo com o estado que está quando a morte a toma.
33. Se acalentas pensamentos maus tua face será rabugenta e mal-humorada; sua língua será incapaz de louvar Deus e serás amargo para com os outros. Mas se acalentas em teu coração o que é imortal e santo, tua face radiará alegria e satisfação, levantarás tua voz em oração e serás muito gentil na fala. Assim será bastante claro para todos se ainda estás sujeito às paixões impuras e à lei da vontade mundana, ou se estais livre de tal servidão e vivendo de acordo com a lei do Espírito. Nas palavra de Salomão, «Um coração alegre faz a face radiante; mas um coração doloso faz o coração mal-humorado» (Cf. Prov. 15,13).
34. As paixões atuadas podem ser curadas pela ação. Dissipação, sensualidade, glutonia e uma vida dissoluta e devassa produz um estado de alma carregado de paixão e a impele a ações inaturais. Por outro lado, restrição e autocontrole, trabalho ascético e esforço espiritual transladam a alma de seu estado carregado de paixão ao estado de apatheia.
35. Se depois do trabalho ascético estrênuo recebes grande dons de Deus por conta de tua humildade, mas é então derrubado e entregue às paixões e à provação dos demônios, deves saber que exaltastes a ti mesmo, pensastes muito em ti mesmo e denegristes outros. E não encontrarás cura ou liberação das paixões e demônios que te afligem a menos que faças uso de um bom mediador e através da humildade e consciência de tuas limitações te arrependas e retornes para teu estado original. Tal humildade e autoconhecimento leva todos que estão firmemente enraizados na virtude a olhara para si mesmos como as mais baixas dentre as coisas criadas.