Stethatos Capítulos Gnósticos 11-20

Nicetas Stethatos — CENTÚRIAS — CAPÍTULOS GNÓSTICOS
11. Deus nos criou em Sua imagem e semelhança (cf. Gen 1,26). Somos em Sua semelhança se possuímos virtude e compreensão; pois «Sua virtude cobriu os céus, e a terra estava plena de sua compreensão» (cf. Hab. 3,3). A virtude de Deus é Sua justiça, santidade e verdade: como Davi diz, «Tu és justo, Ó Senhor, e Tua verdade é Te cerca» (cf. Sal. 89,8, LXX); e de novo. «O Senhor é justo e santo» (cf. Sal. 145,17). Somo também à semelhança de Deus se possuímos retidão e bondade, pois «bom e reto é o Senhor» (Sal. 25,8); ou se estamos consciente da sabedoria e conhecimento espiritual, pois estes estão com Ele e Ele é chamado Sabedoria e Logos; ou se possuímos santidade e perfeição, posto que Ele Ele mesmo disse, «Deves ser perfeito, como teu Pai celestial é perfeito» (Mt. 5,48), e, «Deves ser santo, pois sou santo» (Lev. 11,44; 1 Pe 1,16); ou se somos humildes e gentis, pois está escrito «Aprendam de Mim, pois sou gentil e humilde no coração, e encontrarás repouso para tuas almas» (Mt. 11,29).

12. Posto que nosso intelecto é uma imagem de Deus, é verdadeiro para si mesmo quando permanece entre as coisas que são propriamente suas próprias e não divagam de sua própria dignidade e natureza. Assim ama habitar entre coisas próximas a Deus, e busca unir a si mesmo com Ele, de quem teve sua origem, por que, é ativado, e em direção a quem ascende por meio de suas capacidades naturais; e deseja imitá-lO em sua compaixão e simplicidade. Tal intelecto até gera o Logos, e recria como novos céus as almas afim dele, fortalecendo-os na paciente prática das virtudes; e concede vida a eles através do poder espiritual de seu conselho, provendo-os com a força para resistir as paixões destrutivas. Se, então, verdadeiramente imita Deus, se torna ele mesmo também um criador tanto do mundo noético e do macrocosmo, e claramente ouve as palavras de Deus, «Aquele que extrai o que é precisos do que é vil será como minha boca» (cf. Jer. 15,19).

13. Aquele que adere restritamente a essas atividades do intelecto que acordam com sua natureza e afirma a dignidade da inteligência, é mantido imaculado pelas preocupações materiais, é investido com gentileza, humildade, amor e compaixão, e é iluminado pelo Espírito Santo. Sua atenção focada nas esferas superiores da atividade contemplativa, ele é iniciado nos mistérios ocultos de Deus, e através da sabedoria ele amavelmente ministra àqueles que são capazes de aprender sobre estas coisas. Desta maneira ele não usa seu talento somente para seu próprio benefício, mas também compartilha sua bendição com seu companheiros.

14. Exalte o Uno sobre a díade — o único sobre o dual — e libere sua nobilidade de todo comércio com dualismo, e consorciarás imaterialmente com os espíritos imateriais; pois terás te tornado um espírito noético, embora pareças habitar corporalmente entre outros homens.

15. Uma vez que tenhas trazido apego à díade, à sujeição à dignidade e natureza do Uno, terás submetido a totalidade da criação à Deus; pois terás trazido à unidade o que era dividido e terás reconciliado todas as coisas.

16. Enquanto a natureza dos poderes dentro de nós está em um estado de discordância interior e está dispersada entre muitas coisas contrárias, não participamos nos dons sobrenaturais de Deus. E se não participamos nestes dons, estamos também longe da eucaristia mística do santuário celestial, celebrada pelo intelecto através da atividade espiritual. Quando através de trabalhos assíduos tenhamos purgado nós mesmos da crudez do mal e tenhamos reconciliado nossa discórdia interior através do poder do Espírito, então participamos das benção inefáveis de Deus, e valorosamente celebramos os mistérios divinos da eucaristia mística do intelecto com Deus o Logos em seu santuário espiritual e supracelestial; pois nos tornamos iniciados e sacerdotes de Seus mistérios imortais.

17. Nosso si mesmo decadente deseja de uma maneira que opõe nosso si mesmo espiritual, nosso si mesmo espiritual de uma maneira que opõe nosso si mesmo decadente (cf. Gal 5,17); e nas incessante luta entre os dois cada um esforça-se pela vitória e controle sobre o outro. Esta contrariedade dentro de nós é também chamada «discórdia», «virada», «equilíbrio» e «dupla luta»; e se o intelecto toca o equilíbrio em direção a um ato de paixão humana a alma é fragmentada.

18. Enquanto somos roubados pelo tumulto de nossos pensamentos, e enquanto somos regidos e constrangidos por nosso si mesmo decadente, somos auto-fragmentados e cortados da Mônada divina, posto que não fizemos nossas próprias as riquezas de sua unidade. Mas quando nossa mortalidade é tragada pelo poder unificador da Mônada e adquire um desapego supernatural, quando o intelecto se torna mestre de si mesmo, iluminado por suas intelecções engendradoras de sabedoria, então a alma, em um abraço sagrado com o Uno, é liberada da discórdia e se torna uma unidade; involucrada na Mônada divina, é unificada em uma simplicidade divina. Tal é a natureza da restauração da alma a seu estado original e tal nossa renovação em um estado ainda mais exaltado.

19. A ignorância é terrível e mais do que terrível, uma escuridão verdadeiramente palpável (cf. Ex 10,21). As almas sugadas pela ignorância são tenebrosas, seu pensamento é fragmentado, e são apartadas da união com Deus. Sua finalidade é inanidade, posto que torna a totalidade da pessoa insana e insensata. Cobrindo-se de vulgaridade, mergulha a alma nas profundezas do inferno, onde há todo tipo de punição e dor, perigo e angústia. Inversamente, o conhecimento divino é luminoso e interminavelmente iluminante: as almas nas quais foi engendrado porque por casa de sua pureza possui uma radiância divina, pois as preenche com paz, serenidade, alegria, sabedoria inefável e amor perfeito.

20. Simples e unificada, a presença da luz divina reúne dentro de si as almas que nela participam e as converte em si, as unindo com sua própria unidade e as aperfeiçoando com sua própria perfeição. As conduz a declarar as profundezas de Deus, de modo que contemplam os grandes mistérios e se tornam iniciados e mistagógicos. Aspiras, então, a ser trabalhado principalmente através do trabalho ascético, e verás estes mistérios queridos a Deus — da qual falei — atualmente em obra dentro de ti.