Simão Cireneu

SIMÃO, O CIRENEU (Mt XXVII, 32; Mc XV, 21; Lc XXIII, 26)
Nisso os soldados do governador levaram Jesus ao pretório, e reuniram em torno dele toda a coorte. E, despindo-o, vestiram-lhe um manto escarlate; e tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e na mão direita uma cana, e ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e davam-lhe com ela na cabeça. Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto, puseram-lhe as suas vestes, e levaram-no para ser crucificado. Ao saírem, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a cruz de Jesus. (Mt 27:27-32)

Os soldados, pois, levaram-no para dentro, ao pátio, que é o pretório, e convocaram toda a coorte; vestiram-no de púrpura e puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido; e começaram a saudá-lo: Salve, rei dos judeus! Davam-lhe com uma cana na cabeça, cuspiam nele e, postos de joelhos, o adoravam. Depois de o terem assim escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e lhe puseram as vestes. Então o levaram para fora, a fim de o crucificarem. E obrigaram certo Simão, cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a carregar-lhe a cruz. (Mc 15:16-21)

Quando o levaram dali tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus. (Lc 23:26)

Nisso, pois, Pilatos tomou a Jesus, e mandou açoitá-lo. E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha sobre a cabeça, e lhe vestiram um manto de púrpura; e chegando-se a ele, diziam: Salve, rei dos judeus! e e davam-lhe bofetadas. (Jo 19:1-3)

Tomaram, pois, a Jesus; e ele, carregando a sua própria cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota, (John 19:17)
Gnosticismo
Roberto Pla
Evangelho de ToméLogion 87
Gnosticismo
Roberto Pla
Evangelho de ToméLogion 87
O que se chamou erroneamente “o abandono da cruz” por Jesus, não se deve consigná-lo como tal abandono, senão que o caminho que sobe ao Calvário é o lugar limite do encontro com a Plenitude. A versão manifesta sugere para contar este mistério, o abandono da cruz sobre o ombro do cireneu no caminho do Calvário, quando a verdade oculta foi, sem dúvida, que a cruz que Jesus tomou sobre si ao proclamar a Boa Nova, deixou de ser cruz para ele, para sua alma misericordiosa de Jesus o Vivente, antes de chegar ao alto do monte para alçá-la.

O que faz falta saber é em que dimensão de si mesmo padeceu Jesus, se é que padeceu, quando foi levantado seu corpo com a cruz. Tal como diz o anônimo cristão: “Como soube padecer, teve o não padecer; como consentiu em sofrer, teve o não sofrer”.

Com boa lógica, em resposta à versão manifesta, interpreta o Basilides gnóstico de Irineu de Lião que Jesus, caminho do Calvário, mudou sua “forma” com Simão; e os soldados caíram no engano e deram morte ao cireneu ao invés de cravar na cruz a Jesus. Isto é muito mais do que estava previsto em qualquer dos relatos, manifesto e oculto, salvo que a “forma” à qual se refere Basilides não seja outra coisa que “o plasma nascido à imagem de Jesus o Vivente” e que no Apocalipse de Pedro se menciona como próprio do Jesus corporal.

Na mítica encenação gnóstica do Calvário, Jesus o Vivente é o paralelo mais próximo, enquanto consciência, à ideia hebraica de nesamah.

Mas a Simão o cireneu foi designado representar a “nefes”, a imagem inferior do “ruah”, plasmada (formada; plasis “pelos arcontes” à serviço de YHWH). A Simão o corresponde, portanto, ser os “demônios” (paixões, desejos, etc…) que estão naquela Casa (o corpo passível de Jesus) que nomeia o gnóstico, e empossar-se da tal morada em qualidade de “primogênito”, posto que veio à existência antes que o “ruah”, o sopro de consciência divina.

Este último sopro de consciência, com certa conexão divina, é o que permite ao homem manter vigente o propósito de extravasar algum Dia — uma vez transformado em nesamah, por purificação — aos anjos com chama de espada vibrante que guardam o caminho à Árvore da Vida. Mas quem guarda este caminho, certamente, é a cruz, a árvore da morte.