HESED E DIN — DIN — JULGAMENTO
Cabala
Gershom Scholem: AS GRANDES CORRENTES DA MÍSTICA JUDAICA
A essência do Ser Divino — reza uma observação sem dúvida autêntica do próprio Luria — antes que o Tzimtzum ocorresse, continha não apenas as qualidades do amor e da misericórdia, mas também as da Divina Severidade que os cabalistas chamam Din ou Julgamento. Mas o Din não era reconhecível como tal; era como se estivesse dissolvido no grande oceano da compaixão de Deus, como um grão de sal no mar, para usar um símile de Iossef ibn Tabul. No ato do Tzimtzum, entretanto, ele se cristalizou e se tornou claramente definido, pois na medida em que o Tzimtzum significa um ato de negação e limitado, também é um ato de julgamento. Cumpre lembrar que, para os cabalistas, julgamento significa a imposição de limites e a determinado correta das coisas. De acordo com Cordovero, a qualidade de julgamento é inerente a tudo, na medida em que tudo deseja permanecer o que é, ficar dentro de seus limites. Destarte, é precisamente na existência das coisas individuais que a categoria mística do Julgamento desempenha um papel importante. Se, portanto, o Midrasch diz que originalmente o mundo fora criado com base na qualidade do estrito Julgamento, Din, mas Deus, vendo que isso não bastava para lhe assegurar a existência, acrescentara a qualidade da Misericórdia, o cabalista que segue Luria interpreta a frase da seguinte maneira: O primeiro ato, o ato do Tzimtzum, no qual Deus determina e, por conseguinte, limita a Si Mesmo, é um ato de Din que revela as raízes dessa qualidade em tudo o que existe; essas “raízes do julgamento divino” subsistem em mistura caótica com o resíduo da luz divina que remanesceu, após a retirada ou retraimento original, dentro do espaço primário da Criado de Deus. Então um segundo raio de luz emanado da essência do En-Soph traz ordem ao caos e põe o processo cósmico em movimento, ao separar os elementos ocultos e moldá-los em uma nova forma”. No curso de todo esse processo, as duas tendencias de perpétuo fluxo e refluxo — os cabalistas falam de Hitpaschtut, agressão, e Histalkut, regressão — continuam a agir e reagir uma sobre a outra. Assim como o organismo humano existe pelo duplo processo de inalar e exalar e um não pode ser concedido sem o outro, do mesmo modo o conjunto da Criação consiste em um processo gigantesco de inalação e exalação divinas. Em última instancia, portanto, a raiz de todo o mal já está latente no ato do Tzimtzum.