LOGIA JESUS — QUANDO RETIRADO O ESPOSO (Mt IX,15; Mt XIII,17; Mc II,20; Lc V,35; Lc X,24)
- E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão. (Mt 9:15)
- Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. (Mc 2:20)
- Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão. (Lc 5:35)
Há neste curto dito de Jesus sobre “tirar o esposo”, nas três versões acima, uma associação de tristeza ao tirar algo de que estou “esposado” e ao jejuar. Tristeza com perda, falta, é um associação que não requer explicar, embora mereça a questão “quem”: “quem perde?”. Certamente não o filho de Deus, pois enquanto filho é completo, nada lhe falta ou pode faltar. Quanto ao “jejum”, como “tristeza”, é preciso pensar o sentido de “jejum”.
A questão crucial parece ser a do verbo empregado “tirar”, grego “ἀπαίρω” (apairo), só usado nos Evangelhos nas citações acima. Quem retira? Não pode ser Deus que é dador por natureza. Os “filhos das bodas”, deles pode ser “retirado” o esposo. Qual e que é a relação entre filhos das bodas (νυμφών — numphon) e “esposo” (νυμφίος — numphios)? Relação que pode ser retirada. Por quem ou por quê?
Atendo-se apenas ao Jesus histórico, o versículo pode se referir, como comumente interpretado, à presença corporal de Jesus àquela época entre os seus seguidores, não havendo necessidade de tristeza e jejum então. Entretanto, se a mensagem consta de um evangelho, de uma boa-nova que não quer se restringir ao Jesus histórico, é possível arriscar uma interpretação que dignifique Jesus enquanto o eterno noivo na câmara nupcial de cada um de nós, como “filhos das bodas” ou “amigos do noivo” (Mc), que no assentimento disto, aqui e agora, não sofremos tristeza, e nem necessitamos de jejum. Mas, como “dias virão” em que o esposo é tirado, advém tristeza e necessidade de jejum. Ou seja, ninguém retira o esposo, exceto nosso esquecimento ou não assentimento a sua presença, e por conta disso há tristeza, e jejum se dá como consequência.
Roberto Pla: EVANGELHO DE TOMÉ — LOGION 104
Alude Jesus conjugadamente ao Cristo “manifesto” e ao “oculto”. Quanto ao Cristo “manifesto”, os discípulos tiveram a oportunidade de vê-lo durante algum tempo e de escutar sua Palavra; mas a partir da morte de Jesus, no dia em que lhes seja “arrebatado o noivo”, todo aquele que deseje escutar a Palavra, terá de buscar o Cristo “oculto” no meio de si mesmo, tal como o fizeram muitos profetas e justos que desejaram ver e ouvir:
- Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram. (Mt 13:17)
- Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram. (Lc 10:24)
Como explica Jesus, segundo figura em seu evangelho, é ao Cristo “oculto” a quem os discípulos e também os fariseus que interrogam a Jesus, “terão de buscar sem encontrá-lo”, pois Jesus, o Cristo “manifesto”, o adverte a todos: “Onde vou, vós não podeis vir”.