Prisão de João Batista

JOÃO BATISTA — PRISÃO DE JOÃO BATISTA

Roberto Pla: Evangelho de ToméLogion 46

A vertente oculta que ensina a unidade alma-espírito em seguida às bodas sagradas pertence “em figura” o informe evangélico acerca da prisão de João Batista. A cessação das imagens da mente, ou seja, a culminação do lavado dos conteúdos psíquicos e a paralisação consequente da ação própria do homem psíquico são as significações desta “prisão” de João.

No relato evangélico, esta prisão é o signo ou sinal para o começo da predicação espiritual de Jesus. Esta “condição” oculta pode distinguir-se nos sinópticos. Em Lucas se precipita a notificação da prisão de João para descrever o cenário de um batismo — que se supõe em água — de todo o povo, sem mencionar a João, e relatar logo a descida do Espírito sobre Jesus.

Mateus disse: “Quando ouviu que João havia sido preso, se retirou para Galileia” (Mt 4,12).
*A prisão de João foi sem dúvida o sinal esperado para começar a predicação. Segundo a vertente manifesta, sugere a lógica que Jesus houvesse acudido a cidade de Maqueronte, para tratar com Herodes acerca da possível liberação daquele que acabava de dar-lhe o batismo de água.
É ali onde Jesus considera que chegou o momento de que se comece a cumprir o oráculo do profeta Isaías: “O povo prostrado em trevas viu uma luz intensa”. Por sua parte, Marcos notifica que “João foi preso”, justo no mesmo parágrafo em que faz dizer a Jesus em continuação: “O tempo se cumpriu” (Mc 1, 14-15).

Em verdade, resulta muito difícil não relacionar a prisão de João e o começo da predicação do evangelho. Pelo contrário, a relação de ambos fatos se faz evidente quando se estuda desde este ponto de vista a declaração de Jesus que mais adiante inclui Lucas: “A lei e os profetas chegam até João: dede aí começa a anunciar-se a Boa Nova do Reino de Deus e todos se esforçam por nele entrar” (Lc 16,16).

Dada sua função arquetípica de homem psíquico superior, a obra de João é levar e concluir às portas do Reino; mas a explicação da Boa Nova proclamada por ele é obra do Espírito sob o sopro de Cristo, pois cada “sopro” é um derramamento de unção até a liberdade. A prisão de João ao começar os dias do Reino é justamente sua vitória, o triunfo da alma, porque torna patente que a difícil e imperiosa “diminuição” se consumiu.

A diminuição, ou seja o ato de queimar toda a palha ou «riquezas psíquicas», é o trabalho designado aos dias de João. Desde ali até a chegada dos primeiros voos do Espírito é o interregno de que dispõe o homem psíquico superior para violentar as portas do Reino. Isso o disse Mateus: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, o conquistam os violentos” (Mt 11,12).