Bernard Teyssèdre: Le diable et l’enfer [BTDE]
A Bíblia reporta que Ochozias, rei de Israel, caiu do alto do terraço de seu palácio em Samaria. Enviou então uma consulta ao oráculo de Baal Zebu, deus de Eqron, para se informar se haveria cura. Elias, ultrajado que ele se tenha dirigido ao ídolo de um povo estrangeiro ao invés de YHWH, lhe fez saber que não se levantaria mais (2 Reis 1,2-4). O nome de Baal Zebu, «Senhor das Moscas», não é senão um apelido forjado a partir do Baal Zebu, «Senhor Príncipe», título divino já conhecido em Ugarit: zbl. Isso não basta para explicar porque os sinóticos retiveram este nome de um deus cananeu. Será que a lembrança dos oráculos dados no santuário de Eqron, burgo entre a Judeia e o território de Jamnia, permanecia viva? Creio que duas razões mais fortes foram acumuladas. Uma deveria saltar aos olhos de quem quer que lesse a Assunção de Moisés não através de suas traduções modernas, mas segundo seu manuscrito único e medíocre latino: o reino de Deus porá um fim ao reino de Zabulus. Este demônio é o Príncipe deste Mundo, corresponde portanto, na linguagem de Qumran, a Belial sob a figura de Milki-resa. A segunda razão é que certos meios judeus esperavam, como precursor do Messias, um retorno do profeta Elias, objeto de uma aproximação com João Batista.
A perícope Reino Dividido no Evangelho de Jesus, onde Belzebu é mencionado, parece guardar plena consciência deste sentido da tradição judaica, pois reúne dois Logia, um sobre o reino ou a casa (mencionados juntos o que evoca palácio real) que se «mantém» por sua unidade, e outro sobre «o forte» que protege os bens guardados em sua rica morada. A intenção é de denegrir a ideia de «príncipe», que não remete mais à supremacia celeste, como para a epopeia de Ugarit.Belzebu retoma o papel que os Jubileus designavam a Mastema, a Hostilidade, com suas conotações de violência militar. A metáfora dos Hinos de Qumran, as hordas atacam o refúgio do justo, se inverteu. Doravante «o forte» está na defensiva. Seu domínio, se ele se divide, «não conterá mais» o assalto.
Uma última citação de Belzebu, no Evangelho de Jesus, se dá em Mateus, de novo se referenciando sua qualidade de «mestre da casa» (oikodespotes); mas entra em relações com dois outros tipos de mestres, o proprietário do escravo (kyrios) e o mestre seguido pelo discípulo (didaskalos).
Fica claro nesta perícope (mestre-discípulo) que Jesus se apresenta como «mestre+professor+senhor», didaskalos+kyrios, em oposição ao «mestre» da «casa», que é nosso mundo mau.