PHILOKALIA-TERMOS — THEOTOKOS — MÃE DE DEUS
Nicolas Boon: Au coeur de l'écriture : méditations d'un prêtre catholique
E como ela se tornou Mãe? O Anjo lhe disse: "O Espírito Santo te cobrirá sob sua sombra". Em hebraico "sombra" quer dizer muito mais que a ausência de luz. "Sombra"quer dizer "poder", "virtude ativa secreta". Quando se lê, por exemplo: "sombra da morte", isto não quer dizer unicamente “trevas” no sentido negativo da palavra, mas também “virtude secreta da morte”, pois a morte engendra uma via nova.
Frithjof Schuon
A Virgem-Mãe personifica a Sabedoria supra-formal, é de seu leite que todos os Profetas beberam; sob esta relação, ela é mais que o Filho, que representa então a sabedoria formal, logo a revelação particular. Ao lado de Jesus adulto, em contrapartida, Maria é, não a essência informal e primordial, mas o prolongamento feminino, a shakti: é então, não o Logos sob seu aspecto feminino e maternal, mas o complemento virginal e passivo do Logos masculino e ativo, seu espelho feito de pureza e de misericórdia. A gnose crística aborda a Essência partindo dos diversos aspectos da manifestação divina: entrar no molde desta Manifestação, é realizar a união com o Si, atman, o qual "tornou-se homem a fim de que o homem se tornasse Deus". O aspecto sacrificial desta união se situa, não sobre o plano moral ou ascético, que é exterior, mas também, ou mesmo antes de tudo, sobre aquele da alma em si, enquanto substância. Christianisme/Islam
Poderíamos dizer que o Filho é o Intelecto formal e determinante que bebe o leite do Intelecto informal e indeterminado; é assim que um cristal absorve a luz indiferenciada que é chamado a polarizar por sua própria forma. Por um lado, o Cristo é o centro rigoroso, e a Virgem, o doce raio que o prolonga; por outro lado, a Mãe é o raio que se infunde-se ao círculo, o qual representa o Filho; a ilimitação infunde-se na perfeição. Christianisme/Islam
Nesta perspectiva essencialmente espiritual ou mística, já pudemos perceber que o Mediador é inseparável da Theotokos. Sem ela, seu papel é incompreensível, e aqueles que não a reconhecem não podem deixar de se perder. Como ela é o Protótipo da Igreja, o papel desta será o de se conformar ao seu modelo. Ora, a Theotokos é ao mesmo tempo Esposa, Virgem e Mãe. Assim como Jesus nasce de uma Virgem, o “Cristo total” nasce da Igreja. Pode-se dizer que a Igreja é o Corpo místico de Cristo, ao qual cada novo membro é incorporado pelo batismo, mas também se pode dizer que cada cristão, precisamente por pertencer à Igreja, gera o Cristo, a exemplo da Theotokos, pela ação do Espírito Santo. Assim, paradoxalmente, o cristão pode ser considerado como “filho da Virgem” (ecce mater tua) (“Eis a tua mãe”, palavras de Cristo na cruz), “irmão de Cristo”, “filho de Deus e da Igreja”, mas também como “mãe de Cristo” (isso aparece claramente em Mateus, XII, 50: “Quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Ora, diz o Mestre Eckhart, “o Pai não tem mais do que uma vontade, que é a de gerar o Filho único”. É então in divinis, o nascimento eterno, protótipo ou arquétipo do nascimento virginal de Cristo na Theotokos, na Igreja e na alma de cada fiel), o que implica imediatamente que ele realize efetivamente — e não de uma maneira puramente moral ou ideal — a Virgindade essencial de Maria (Sophosyne) (Sophrosyne: palavra grega que significa “estado saudável do espírito ou do coração”, e igualmente a “moderação dos desejos” (Platão, Banquete), a temperança e a sabedoria. Na Igreja Oriental, esta palavra designa a castidade dos ascetas), com as “virtudes espirituais” — e não apenas morais — da Virgem: humildade (tapeinophrosyne), caridade (ágape), submissão, receptividade perfeita, abnegação do ego, pobreza espiritual (cf. as Bem-aventuranças), infância espiritual, pureza, desapego, fervor, paz, “violência” contra os inimigos da alma e contra as potestades tenebrosas, etc. SOBRE O MEDIADOR