THOMAS MERTON — TEMPO E LITURGIA
O SACRAMENTO DO ADVENTO NA ESPIRITUALIDADE DE SÃO BERNARDO (cont.)
A PASCHA CHRISTI (Cf. Col I,18-23; II,12-15; III,1-5. Mas especialmente Ef I,18; II,8.)
Cristo, que está presente no mundo, vivo em seu Corpo Místico, seu Reino, também reina no céu. Penetrar no mistério do Advento é penetrar na Pascha Christi, ou a passagem de Cristo por este mundo, de maneira a poder erguer todas as criaturas, em Si, até os céus. Sem empregar, em realidade, a expressão Pascha Christi, São Bernardo cita Ef IV,9-10, sobre Cristo que desceu às “partes inferiores da terra”, a fim de ascender novamente ao céu, “levando cativo o cativeiro”, para restaurar todas as coisas.1 Assim, nossa vida da graça é a vida do Cristo ressuscitado em nós (Ef 2,5-6; Col 2,12). Estamos sepultados juntamente com Ele pelo batismo na morte, para que assim como Cristo ressuscitou dentre os mortos, também nós caminhemos em novidade de vida (Rom 6,4).
O Verbo se fêz carne no primeiro Advento, ingressando em nosso mundo, para passar através dele (pascha — transitas), reunindo nele os eleitos, pelos efeitos de sua morte e ressurreição, de maneira a que sua encarnação, prolongada em seu Corpo Místico, a Igreja, possa, finalmente, culminar na glorificação do Cristo total à direita do Pai, no céu.2 Para São Bernardo, como para São João da Cruz (Cântico espiritual. L. 27, n.I) a mais alta contemplação é a participação do mistério de Cristo, o mistério da Cruz, ou aquilo que temos chamado de Pascha Christi — a obrigação do monge de viver no céu ainda que na terra.3 Nossa vida está escondida com Cristo em Deus. São Bernardo cita esse texto (Col 3,1) para mostrar-nos que, embora Cristo esteja presente a nós nesta vida, que é, portanto, a antecipação do céu na fé, é ela, porém, acima de tudo, um céu, porque Ele reina gloriosamente no céu e derrama sobre nós a graça do Espírito Santo que nos une em Sua vida ressuscitada.