Parabola da Rede (Mt XIII, 47-50)

PARÁBOLAS EVANGÉLICAS — A PARÁBOLA DA REDE (Mt XIII, 47-50)

47 E mais, o reino dos céus é semelhante a uma rede jogada ao mar. Ela apanha peixes de todos os tipos. Quando está cheia, eles a puxam para a margem, 48 e se sentam e juntam em cestos o que há de bom; o que há de podre, eles jogam fora. 49 Assim será no fim da era. Os mensageiros sairão, e separarão os criminosos do meio dos justos. (Mt XIII, 47-50) [Chouraqui]

Orígenes: COMENTÁRIOS SOBRE MATEUS

É assim que, nesta passagem, «o Reino dos céus é semelhante a uma rede jogada no mar», não no sentido que entendem alguns que pretendem descobrir, sob estas palavras, a existência de naturezas diferentes de maus e de justos capturados na rede, a ponto de crer que por causa da passagem «que reúne toda espécie de peixes», há naturezas numerosas e diferentes de justos, assim como de maus; pois uma tal interpretação é contradita por todas as Escrituras que revelam o livre arbítrio e que acusam os pecadores, enquanto que aprovam aqueles que se conduzem bem, e seria injusto que a acusação acompanhasse uns, por causa de sua espécie má que se encontraria tal por natureza, ou o louvor outros por causa de sua espécie superior. Pois se há maus ou bons peixes, a causa não está em sua alma de peixe, mas no fato que conhece a Palavra quando diz: «Que as águas produzam répteis viventes!» e também quando «Deus fez os monstros marinhos e todos os seres rastejantes que as águas produzem segundo sua espécie». Logo, neste momento, «todos os seres rastejantes», são «as águas que os produziram segundo sua espécie», sem que sua alma aí fosse por nada. Agora, ao contrário, somos nós mesmos responsáveis, se pertencemos a uma espécie boa e digna de entrar nos cestos que fala o texto, ou então a espécies malvadas que merecem ser lançadas longe; pois não é nossa natureza que, em nós, é causa do mal, mas nosso livre arbítrio que faz o mal sem constrangimento. Da mesma forma, não é também nossa natureza que é causa de nossa justiça, como se ela fosse incapaz de pecado, mas é a Palavra que recebemos que modela os justos: e de fato, quando se trata de espécies aquáticas, não é possível vê-las passar de uma má qualidade, enquanto espécie de peixes, a uma qualidade superior, nem, de melhores que eram, se tornar piores, enquanto que, quando é questão de homens, pode-se sempre ver os justos ou os maus fazer esforços para passar do mal à virtude, ou bem se deixar escorregar do progresso para virtude à degeneração para o mal.

[…] é preciso pensar que o «Reino dos céus» é comparado «a uma rede lançada no mar e reunindo toda espécie de peixes», para mostrar a diversidade do livre arbítrio nos homens, pois manifestam as maiores diferenças, de sorte que se realiza a expressão: «ele conduz (homens) de toda espécie», merecendo louvor ou acusação, segundo sejam inclinados às formas das virtudes ou àquelas dos vícios.

Jerônimo: Comentario a Mateo y otros escritos (contribuição e tradução de Antonio Carneiro)

“É também semelhante o reino dos céus a uma rede de pesca lançada no mar e que recolhe peixes de toda espécie, que, uma vez cheia, os que puxam, sentando-se à margem, escolhem os bons para seus cestos e os maus jogam fora: assim será na consumação dos séculos,” (47-49) e os demais. Cumprido o vaticínio de Jeremias que diz: “Eis aqui que lhes envio a muitos pescadores” (Jr 16,16), depois que ouviram Pedro e André, Tiago e João filhos de Zebedeu: “Segui-me e os farei pescadores de homens” (Mt 4,19), teceram com cânhamo do antigo e do novo testamento da rede de pesca dos ensinamentos evangélicos e a lançaram ao mar de nosso século, a qual até hoje está estendida no meio das ondas, pescando dos abismos salgados e amargos tudo o que nela caiu, isto é, homens bons e maus e peixes boníssimos e malíssimos. Quando tenha chegado a consumação e o fim do mundo, como explica mais abaixo, então se puxará a rede para a margem, então se mostrará o verdadeiro juízo de selecionar os peixes e, como em um porto tranquilíssimo, os bons serão lançados nos cestos das mansões celestiais e aos maus lhes receberão as chamas da Geena para abrasá-los e tostá-los.

Tomás de Aquino: CATENA AUREA


Roberto Pla: Evangelho de ToméLogion 8; Evangelho de Tomé – Logion 9

Enquanto alegoria de todas as vestimentas ou riquezas que crescem aderidas à boa semente (Parábola do Semeador), os peixes que Mateus chama de “maus” não — tal como imagina uma visão simplista ou imatura — os homens em quem não frutificou essa semente que “são eles mesmos” e da qual se afirma que é a “a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), senão os muitos “abrolhos” que “pelas preocupações do mundo e sedução das riquezas”, crescem e vivem às expensas do grão de trigo e do bom peixe. Quando chegue o fim — a sega, o fim mundano, quer dizer, o fim do de abaixo, porque o de acima, o Reino da Palavra, é eterno, sem fim — serão aventados com o mangual segundo proclamou João Batista e só a semente bem limpa, a Palavra pura, será recolhida no celeiro, enquanto que a cizânia ou os “maus” peixes, isto é, a personalidade falsa, erroneamente aderida, as vestimentas isentas de semente, irão ao fogo, a ser queimadas até ficar reduzidos a cinzas, tal como se comporta sempre a ação destruidora do tempo e sua natureza com tudo o que é mortal.


Maurice Nicoll: PARÁBOLA DA REDE