Depois de lembrar ao leitor não-alemão que a palavra alemã still significa tanto silencioso como calmo, uma ligação tão essencial que quando a tradução, tendo que escolher, escreve silencioso, devemos também entender calmo e vice-versa, vamos repetir com Angelus Silesius que somente a “oração silenciosa” (I, 240) é correta e eficaz. Recordemos mais uma vez a afirmação principal e quase única de Angelus Silesius:
Cristão, para onde estás correndo? O céu está dentro de ti;
por que buscá-lo na porta de um outro? (I, 298),
Mas como essa maravilha pode ser realizada? Ficando em silêncio, uma condição necessária para ouvir um tipo de silêncio completamente diferente: a Palavra de Deus, o próprio Deus, e é assim que lemos no dístico que segue imediatamente o que acabamos de citar:
É pelo silêncio que se ouve.
A Palavra está em ti mais do que em outras bocas;
se por ela te calas, imediatamente a ouves (I, 299).
Quando a alma atinge a calma profunda que só o silêncio perfeito pode dar, há ao mesmo tempo uma realização e uma inversão: no ponto zero da fala, o homem surdo e mudo, longe de estar emparedado em uma solidão atroz, torna-se, ao contrário, o próprio lugar da mais alta comunicação, pois ele “ouve a Palavra” (I, 93). É hora de dizer que a Palavra não acaba com o silêncio, pelo menos no sentido de que a Palavra não pode ser ouvida pelo ouvido, mas, e essa é a sua graça, ela transforma o silêncio de negativo em positivo, dotando-o de uma qualidade musical:
Um coração para Deus calmo em seu fundo, como Ele quer,
Ele gosta de tocar, pois esse coração é Seu alaúde (V, 366).