Novo e Velho (Mt XIII, 52)

LOGIA JESUS — DO NOVO E DO VELHO (Mt XIII, 52)

EVANGELHO DE JESUS

52 Ele lhes diz: «Eis que todo sophèr que se torna um adepto do reino dos céus é como um homem, um patrão, que tira de seu celeiro o novo e o velho.» [Chouraqui]

Os Padres da Igreja, principal referência na exegese dos ditos de Jesus, infelizmente só fazem repetir o dito sob diferentes formas e perspectivas, em uma retórica mimética que tenta preservar a sua literalidade, para talvez, quem sabe, o dito venha a ser compreendido, no momento justo pelo próprio leitor. No caso, os comentaristas só tiram do celeiro dos ditos, o “velho”. Testemunha este fato, o comentário abaixo do grande São Jerônimo, posto em contraste com o empenho de um perenialista, Roberto Pla em discernir o sentido do dito.


Jerônimo: COMENTARIO A MATEO Y OTROS ESCRITOS (contribuição e tradução de Antonio Carneiro)

“Entendestes tudo isto? Disseram-lhe: Sim.” (13,51). É uma frase propriamente para os apóstolos, e se lhes diz: “Entendestes isto”, porque não quer que escutem como povo, mas entendam como futuros mestres.

Por isso todo escriba instruído na doutrina do reino dos céus é como um homem pai de família que tira de seu tesouro o novo e o velho (13,52). Instruídos estavam os apóstolos, escribas e secretários, que selavam suas palavras e preceitos nas tábuas carnais do coração, com o mistério do reino dos céus, e dispunham das riquezas do pai de família tirando do tesouro de suas doutrinas do novo e do velho, para qualquer coisa que predicassem no evangelho comprovassem com a palavra da lei e dos profetas. Daí a esposa dizer no Cântico dos cânticos: “Frutas novas com as velhas guardei-as para ti, primo meu.”


Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 9

Todo homem que pratica (praktike; que é discípulo ilustrado — escriba — o conhecimento do Reino, “é semelhante ao dono de uma casa que tira de suas arcas o novo e o velho”. Se ambas as coisas, o novo e o velho, estão na arca deste homem (em sua casa, nele mesmo), sejam estas coisas figuradas nas parábolas pelo campo do tesouro e os outros campos, a pérola de grande valor e as outras pérolas, o trigo e a cizânia, o peixe bom e o mau, o que tenha que ser queimado ao final não será nunca o homem pneumático, o “Homem Novo criado segundo Deus” (Ef 4,24), senão aquele aderido pela consciência, tomado por empréstimo pela ignorância, que por estar isento da semente verdadeira carece de Vida e Verdade. Este é o mesmo que explica São Paulo quando aconselha: “Despoja-os do homem velho com sua obras e revesti-os do homem novo”.