Paul Nothomb — Árvores do Paraíso [PNSR]
Esqueçam a abundante Iconografia imaginando o paraíso terrestre com a vegetação luxuriante e variada que parece se impôr neste lugar de delícias. O relato do Gênesis o ignora e mesmo de erva não fala senão negativamente. Para assinalar sua ausência antes, e sua ameaça depois, aí ajuntando os cardos e os espinhos. No texto, o Jardim do Éden não contém explicitamente senão árvores, um rio de quatro “cabeças” que o banha e animais para ter companhia a Adão, única criatura anterior a sua plantação (do Jardim do Éden). Sua plantação que precede de pouco aquela das árvores. O hebreu para mencionar as árvores do Jardim emprega sempre o singular “ets” como para Adão, um e múltiplo “haadam”. “Ets” e “haadam” se respondem. São nomes ao mesmo tempo coletivos e singulares segundo o contexto, frequentemente discreto sobre este ponto. Ao leitor resta compreender.
Acabei por compreender que “ets” representa “haadam” como o rio de quatro “cabeças” seu entendimento. O relato do Jardim do Éden não é mítico mas pedagógico. Há com efeito duas espécies de árvores, as anônimas, qualificadas “de aspecto agradável” e de “boas a comer”, que evocam as necessidades estéticas a princípio, em seguida gustativas, do ser humano da origem. Em seguida aquelas que portam um nome bem preciso para a primeira e mais elaborada, mais capital para a segunda, Não é dito que Deus as fez crescer como as anônimas. A Árvore de Vida como a Árvore de Onisciência estão no meio (no Centro) do jardim. Ainda mais evidente que a cópula não existe em hebreu e que o termo a termo do texto deve se traduzir: “E a Árvore de Vida no meio (ao centro) do jardim, e a Árvore de Onisciência”. Aí estão e designam o mais importante. O que devemos aprender e reter, nós n “condição humana” mortal deste relato.
A árvore que os designa em cada caso, significa que tanto os prazeres quanto a vida e o conhecimento estão fundamentalmente enraizados no Éden. Em realidade à origem e em nosso memória do Éden hoje em dia.
Nossa memória do Éden, é nosso inconsciente “que tudo quer” segundo Freud que o deplora: a imortalidade, a felicidade, a alegria! Esta aspiração universal, mais frequentemente inconfessada, caracteriza o ser humano em sua diversidade como em sua totalidade. Ele a recusa desde que Adão foi expulso voluntariamente do jardim, a princípio em formando um casal sobre o modelo animal, “Queda confirmada e simbolizada pela ruptura subsequente da Árvore da Onisciência e não pela consumação de seu pretendido “fruto” do qual fala a tradição. O grande erro da tradição, que se reflete em todas as traduções como na doutrina judaica e cristã, é assim entendo de negligenciar a indispensável presença da palavra “árvore” nos nomes das duas árvores no centro do jardim. A palavra “árvore” faz parte integrante do nome de cada uma delas. A palavra “árvore” que atesta o enraizamento no Éden da vida consciente mesmo mortal, depois da saída do jardim de Adão, e sobretudo introduz a morte no mundo por sua separação da onisciência “fora dele” (mimmenou em hebreu). Este mimmenou seis vezes citado no texto a respeito da única Árvore da Onisciência e uma vez a respeito do Adão caído para mostrar que se trata de uma ruptura, e não de uma proveniência, entre as duas metades, doravante separadas, da Árvore da Onisciência. A onisciência única tornada “razão soberana” e “louca da casa” perdendo seu enraizamento edênico.
Túnicas de Cego [PNTA]
O Jardim do Éden é definido como o “lugar” do Homem. Deus expressamente o plantou para ele e aí fez crescer em seguida, a sua intenção, “todas as árvores comestíveis e encantadoras a ver”.
O fato que seja à intenção do Homem é sublinhado pela menção “min haadama” (v. Adam) no texto (2,9). Não se deve esquecer que se trata de um relato didático, de um ajuda-memória para despertar a memória do Éden já falha sem dúvida de seus primeiros destinatários-ouvintes, mergulhados até o pescoço na “condição humana” desde o Dilúvio. O “lugar” do Homem original devia sem cessar, como a nós, lhe ser relembrado.
Sem transição o texto adiciona que se encontram também no jardim duas outras “árvores” cuja análise revela que são muito diferentes das primeiras. Não somente não é dito que Deus as fez crescer aí, nem que são aí à intenção do Homem mas sobretudo elas portam nomes. Nomes que são suficientes para indicar que não se situam no mesmo plano que as anônimas citadas antes delas. Não são nomes de árvores. São senhas.
O versículo 2,9 contém duas frases de regime diferente. A primeira é “verbal” e o complemento do objeto de seu verbo “fez crescer” é indefinido, a segunda é “nominal” e as duas outras “árvores” dela são os sujeitos. As duas ouras “árvores” não podem ser complementos do verbo “fez crescer” pois, estando definidas, elas deveriam ser neste caso precedidas da marca do complemento direto definido “’T” (pronunciado “ett”) em hebreu.
São senhas, e a palavra “árvore” disto faz parte. Sim, é muito importante, nos dois casos a palavra “árvore” está incluída no código. A palavra “árvore” que é um símbolo que não tem necessidade de ser codificado, um símbolo transparente da Vida. E associado à “Vida” no código “Árvore de Vida” multiplica de alguma forma a Vida pela Vida, os símbolo “Vida” que no limite nada mais é que uma palavra pelo símbolo “árvore” mais concreto que a representa. Este código é bem conhecido em mitologia comparada. Na epopeia de Gilgamesh por exemplo (onde não é uma “árvore” mas uma “planta”) designa a Imortalidade. Aqui também, certamente.
Mas o outro código? A outra “árvore” que está no meio do jardim, que designa ela? Vide Árvore do Conhecimento.