Nilo Pernas Pés

Nilo do Sinai — DISCURSO ASCÉTICO
Tratado Ascético, Nilo de Ancira, Editorial Ciudad Nueva, Madrid, Biblioteca de Patrística n° 24, 1994, 250 p. — ISBN: 84-86987-67-9

Colaboração e Tradução de Antonio Carneiro

15. O simbolismo das pernas e dos pés

A quem poderá dirigir-se, no entanto, sem ser desprezado, aquele que se encontra totalmente imerso nos negócios do mundo, se não se levantar de uma vez para tomar o caminho certo da vida ? Está impedido, porque não tem pernas que lhe permitam elevar-se do chão [apoiado] sobre seus pés. Assim como as pernas, que ao dobrar-se fazem convergir sobre si o peso do corpo, se abaixam até quase tocar o chão para saltar de imediato para o alto, assim também nossas faculdades racionais se abaixam primeiro ao nível das necessidades corporais para se elevar em seguida para as atividades próprias dos pensamentos superiores. Dirigem-se, pois, para o alto sem haver contraído contágio algum com coisas terrenas.

E lhes é conveniente endireitar as pernas não só as dos muito voluptuosos e as dos que sempre jazem no nível mais baixo, como também às santas potestades que, para elevar-se, não tem necessidade de membros corporais nem de pés.

Em minha opinião, quando o grande Ezequiel fala de suas pernas eretas e de seus pés alados (Ez.1,7), alude à estabilidade da mente e à agilidade para entender própria daquela natureza.

Os homens, no entanto, devem ter pernas flexionadas, para atender de quando em quando as necessidades corporais; mas muitas outras vezes terão que elevar-se para as atividades da alma, poque a alma está aparentada com as potestades celestiais, podendo entrar em fácil colóquio com elas, enquanto que o corpo por inércia própria tende à terra tanto quanto lhe obriga a necessidade. Não obstante, seria realmente impuro e indigno de homens dotados de conhecimento racional abandoná-lo por completo aos prazeres.

Com efeito, ao que caminha sagazmente sobre quatro pés e não com simplicidade, a Bíblia o chama impuro (Lv 11,27); mas somente se caminha sempre sobre os quatro; porque também ela permite que os seres corpóreos disponham de um tempo para dar respostas às exigências do corpo. Assim, Jonatan andou sobre quatro pés (1 Sm 14, 13) para combater contra Naás (1 Sm 11, 2) , o Amonita, e o venceu seguindo a única exigência da natureza, porque convinha que ele tinha que lutar contra uma serpente (tal é o significado de Naás) que se arrastava com violência sobre o peito, se assemelhasse à ela, por algum tempo, andando de quatro pés. Assim foi como pôde vencer seu inimigo para empreender de novo com suma facilidade seu habitual modo de andar em posição ereta.