ECKHART SEGUIDORES — AMIGOS DE DEUS
Giuseppe Faggin — Meister Eckhart e a mística medieval alemã
Tauler e Suso haviam sido seus promotores. Através de sua ensinança e de seu apostolado, os princípios da mística eckhartiana chegavam a inspirar a vida prática e a refinar, no retiro e na pobreza, a interioridade da experiência moral-religiosa. Desta mística sociedade, Rulman Merswin é a figura mais representativa, mas também a mais enigmática.
OS AMIGOS DE DEUS E OS NOVOS FARISEUS Assim a alma alcança o Absoluto e termina para sempre, neste místico sábado, seu trabalho humano. Mas como a meta suprema está condicionada sobretudo pela inescrutável ação do Espírito que sopra de onde quer, Tauler reconhece que não a todos é concedido alcançar a perfeição suprema. Tauler distingue três espécies de vocações: a dos principiantes que têm necessidade dos preceitos exteriores e não chegam a Deus senão na vida ultraterrena, depois que o purgatório queimou tudo o que de impuro restava de sua vida; a dos que progridem; e a dos perfeitos, chamados ao grau mais elevado de perfeição moral. Para que os principiantes possam responder adequadamente sua vocação, a Igreja instituiu comunidades e Ordens. Entre eles Deus elege geralmente algumas almas superiores e as eleva ao segundo e mesmo ao terceiro grau. Mas Tauler percebe muito bem as graves deficiências da vida monástica de seu tempo e não tem dúvidas em afirmar que certos homens, sob a aparência de religiosos, têm corações mundanos, enquanto que certos mundanos têm coração de religiosos. Com nobre indignação eleva sua voz de reprovação contra os novos fariseus que se consideram bons e perseveram nos mandamentos e por seus hábitos superiores querem ser estimados e elogiados, enquanto seu íntimo está cheio de prevenções contra os que não pensam como eles. São eclesiásticos que vivem com grande honra e têm um grande renome e estão, pelo menos aparentemente, fora das trevas externas. Com grande dificuldade se os pode distinguir exteriormente dos verdadeiros amigos de Deus, já que costumam realizar muitos atos exteriores, como orações, jejuns e duras mortificações, em maior número que os amigos de Deus. Somente pode distingui-los quem tem realmente em si o espírito de Deus. Mas também apresentam uma diferença exterior com respeito aos verdadeiros amigos de Deus: estão cheios de preconceitos contra os demais e nunca se julgam a si mesmos, como fazem, ao contrário, os verdadeiros amigos de Deus. Assim os novos fariseus, querendo julgar aos demais, levantam algumas muralhas entre Deus e os homens. Todo o conjunto hierárquico, judiciário e disciplinário da Igreja é julgado diretamente como um ordenamento instrumental de organização que não pode tocar a sagrada e inviolável interioridade da alma, que oculta em si, sem intermediários, a presença de Deus e a salvação. O mundanismo pode arrastar à Igreja e imiscuí-la em interesses terrenos e em lutas infinitas; os interditos pontifícios podem privar os homens do consolo dos sacramentos; o sacerdote pode negar-se a dar o pão eucarístico; a alma permanecerá em seu abandono e em sua paz divina e receberá espiritualmente de Deus e com maior proveito, a graça que não pôde obter sacramentalmente.
Estudos e excertos: