Se o conhecimento que se tornou a ciência galileana moderna do universo material reduz o homem a uma parte deste, a um complexo de moléculas e de partículas e às determinações matemáticas de que estas não são separáveis, não sendo nada mais que o ponto de interseção dessas redes paramétricas, o que diz, ao contrário, o que diz do ser verdadeiro do homem o cristianismo? Que ele é Filho. Não filho de uma vida biológica que, segundo a própria biologia, não existe, mas da única vida que existe, a vida fenomenológica absoluta, que não é senão a essência de Deus. Deixemos de lado, no entanto, por tratar-se de um confronto com a ciência que não sabe o que é Deus, toda asserção propriamente religiosa decorrente da “fé”. Consideremos esta vida fenomenológica em si mesma, de um ponto de vista puramente filosófico, tal como fizemos ao longo de todo este ensaio. Certamente, não se pode “considerar” esta vida, que nunca é vista. Com respeito à vida invisível, a filosofia, que é um modo do pensamento, é tão impotente quanto a ciência. E isso porque a vida em geral escapa ao pensamento, a toda mira intencional, a todo olhar, a todo “lá fora”, assim como escapa ao conhecimento físico-matemático do universo material, que não é senão uma forma particular de tal olhar. Somente a vida que não se mostra no mundo, que é subtraída à sua verdade, se revela a si mesma em sua autorrevelação patética, experimentando-se a si mesma com uma força invencível; de modo que, ainda quando disséssemos que não haveria nenhum mundo – nenhum pensamento, nenhum conhecimento e nenhuma ciência –, esta experiência de si da vida que é seu “viver” não se deixaria de produzir. É desta Vida invisível e invencível que o homem é Filho. (Michel Henry MHSV)
vida invisível
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