União Amorosa

Arte da Prece — Prece — Guarda do Coração
União amorosa com Deus
Primeiro que tudo deve ser compreendido que é o dever de todos os Cristão — especialmente daqueles cujo chamado os dedica para vida espiritual — esforçar-se sempre e de todas as maneiras para serem unidos com Deus, seu criador, amante, benfeitor, e seu supremo bem, pelo qual e para o qual foram criados. Isto é porque o centro e o propósito final da alma, que Deus criou, deve ser Deus Ele mesmo somente, e nada mais — Deus de quem a alma recebeu sua vida e sua natureza, e para quem deve ser eternamente viva. Para todas as coisas visíveis na terra que são dignas de amor e desejáveis — riquezas, glória, mulher, filhos, em uma palavra tudo deste mundo que é belo, doce e atraente — pertencem não a alma mas apenas ao corpo, e sendo temporário, passará tão rápido como uma sombra. Mas a alma, sendo eterna por sua natureza, pode alcançar o descanso eterno no Deus Eterno: Ele é seu bem mais alto, mas perfeito que toda beleza, doçura e encanto, e Ele é sua morada natural, de onde tenha vindo e para onde deva retornar. Pois como a carne da terra retorna à terra, assim a alma vindo de Deus retorna a Deus e habita Nele. Pois a alma foi criada por Deus a fim de habitar com Ele para sempre; portanto nesta vida temporária devemos diligentemente buscar união com Deus, a fim de ser considerado merecedor de estar com Ele e Nele eternamente na vida futura.

Nenhuma unidade com Deus é possível exceto por um excessivo grande amor. Isto podemos ver da história da mulher no Evangelho, que era um pecador: Deus em Sua grande misericórdia a concedeu o perdão por seus pecados e uma firme união com Ele, ‘pois ela amava tanto’ (Lucas VII. 47). Ele ama aqueles que amam Ele, Ele se adere àqueles que a Ele se aderem, Se dá àqueles que buscam Ele, e concede abundantemente plenitude de deleites àqueles que desejam deliciar-se no amor Dele.

Para despertar em seu coração um tal divino amor, para unir-se com Deus em uma união inseparável de amor, é necessário para um homem orar frequentemente, elevando sua mente para Ele. Pois como uma chama quando é constantemente alimentada, assim a oração, feita frequentemente, com a mente habitando cada vez mais profundamente em Deus, eleva o amor divino no coração. E o coração, posto em fogo, irá aquecer todo o interior do homem, irá iluminá-lo e ensiná-lo, revelando a ele toda a sabedoria desconhecida e oculta, e fazê-lo como um serafim incandescente, sempre diante de Deus com seu espírito, sempre olhando para Ele dentro de sua mente, e resgatando desta visão a doçura do deleite espiritual.

A oração dita com os lábios sem a atenção da mente não é nada. Seria bom aplicarmo-nos segundo os termos de S. Paulo aos Coríntios. Que uso isto é para você, ó Coríntios (assim escreve ele), se orais apenas com a voz, enquanto sua mente não presta atenção à oração mas divaga sobre qualquer coisa? Que benefício existe se a língua muito fala mas a mente não pensa sobre o que é falado, mesmo que se pronuncie muitas palavras? Que benefício existe se se canta a voz alta, e com toda força de seus pulmões, enquanto sua mente não permanece diante de Deus e não O vê, mas vagueia em pensamento para outro lugar? Uma tal oração não lhe trará nenhum benefício. Não será ouvida por Deus e permanecerá infrutífera. Bem julgou S. Cipriano (Bispo de Cartago no Norte da África, falecido como um mártir em 258) quando disse: ‘Como se pode esperar ser ouvido por Deus, quando se ouve a si mesmo? Como se espera a lembrança de Deus quando se ora, se não se tem lembrança de si mesmo?’