Lucas, Evangelista, São (séc. I)

O nome de Lucas está vinculado a dois livros canônicos do Novo Testamento: o terceiro evangelho sinótico e os Atos dos apóstolos. A tradição da Igreja está de acordo em identificar seu autor com Lucas. “Jamais se propôs seriamente, nem na Antiguidade, nem em nossos dias, nenhum outro nome”. As qualidades e características de estilo e de composição destes dois livros coincidem com as que sabemos de Lucas. O autor aparece como um cristão, judeu muito helenizado ou, melhor ainda, grego de ampla instrução, conhecedor a fundo das coisas judias e da Bíblia grega, com conhecimentos em medicina e, sobretudo, companheiro de viagem de São Paulo.

A ninguém, de fato, melhor do que a Lucas se encaixam estas características: sírio de Antioquia, conforme uma antiga tradição, médico e de origem pagã. É apresentado por Paulo “como o querido médico” (Cl 4,14) e que esteve a seu lado durante dois cativeiros romanos.

Evangelho segundo Lucas. Como vimos, atribuído desde o séc. II a São Lucas, e reconhecido como canônico desde essa época. A data de composição mais provável situa-se entre 75 e 90 d.C. O mérito especial do terceiro evangelho vem da atrativa personalidade de seu autor, que transparece constantemente. São Lucas é um escritor de grande talento e uma alma delicada. Elaborou sua obra de forma original, com afã de informação e de ordem (Lc 1,3). O evangelho, escrito em grego, tem como principal característica sua insistência na vida, morte e ensinamento de Cristo como mensagem de salvação universal dirigida a todos os homens, não apenas aos judeus. Lucas acentua a misericórdia e compreensão humana de Jesus com os pecadores e marginalizados. Há também retratos de mulheres que não aparecem nos outros evangelhos. Insiste em quais devem ser as atitudes do discípulo de Cristo: amor ao próximo, como sinônimo de serviço. Através do amor e do serviço, o discípulo entra numa nova relação com Deus, a quem pode chamar de Pai. Outra característica de Lucas é a insistência na oração de Jesus.

— Atos dos Apóstolos. O autor é o mesmo que o do terceiro evangelho, identificado desde o séc. II com Lucas, “o querido médico”. Nem todos os estudiosos compartilham essa identificação. A data de composição costuma situar-se entre 8090 d.C. “O terceiro evangelho e o livro dos Atos se compuseram como partes integrantes de uma só obra, que hoje chamaríamos de ‘História das Origens do Cristianismo’. Separaram-se as duas obras quando os cristão desejaram dispor dos quatro evangelhos num mesmo códice. E deve ter ocorrido muito cedo, antes do ano 150”.

— Os Atos não pretendem ser uma história completa, mas assinalar os acontecimentos mais importantes com relação à expansão do Evangelho e, especialmente, da grande decisão de anunciá-lo aos pagãos. A obra é composta com grande destreza e resulta de uma amenidade extraordinária. O autor propõe como exemplo a época apostólica e, em concreto, a vida da primitiva comunidade de Jerusalém. Mostra como a Igreja continua a verdadeira tradição de Israel e deixa claro que a difusão do Evangelho entre os pagãos se faz por expressa vontade de Deus. Paulo é o protagonista da mensagem que quer transmitir o livro: a salvação prometida para os tempos finais já está presente na Igreja guiada pelo Espírito de Jesus, que se vai estendendo com a pregação.

BIBLIOGRAFIA: João de Maldonado, Comentarios a los cuatro evangelios (BAC), 3 vols.; J. A. Fitzmayer, El evangelio de Lucas. Cristiandad, Madrid 1986, 2 vols.; X. León-Dufour, Los evangelios y la historia de Jesús. Cristiandad, Madrid. (Santidrián)