Nossa atenção centra-se, principalmente, nas significações do termo, do livro ou livros que contêm a Boa Nova ou Evangelho de Cristo. Sabe-se que a palavra evangelho significa, em grego, boa notícia ou notícia que causa alegria. Deste primeiro significado deriva o verbo evangelizar, a ação de transmitir a boa notícia. Significa também o conteúdo, doutrina e mensagem da transmissão. Outro significado importante de evangelho é o instrumento ou meio através do qual nos chega a mensagem. Neste sentido falamos dos evangelhos que contêm e transmitem a doutrina de Cristo. A seus autores denominamos “evangelistas”.
1. Os evangelhos, no plural, referem-se aos diferentes relatos que, sobre a doutrina de Cristo, começaram a ser redigidos depois da morte de Jesus. Os quatro evangelhos “segundo Mateus, Marcos, Lucas e João” são tão-somente os quatro reconhecidos como oficiais ou canônicos pela Igreja. Foram escritos na segunda metade do séc. I. Existem também outros evangelhos conhecidos como apócrifos, que não são reconhecidos como canônicos pela Igreja. O abuso que fazem do fantástico e do maravilhoso classifica-os dentro da lenda, embora ofereçam dados de interesse histórico para se conhecer a época. Apareceram no final do séc. I e durante todo o século II (Apócrifos).
2. Já falamos sobre o conteúdo, data de redação e autor desses quatro evangelhos ao estudarmos seus autores. O que nos interessa agora é apontar alguns dos problemas que afetam o próprio gênero literário dos evangelhos, o texto, seu valor histórico e outros. E o primeiro de todos é sua origem: Como nasceram? Convém saber que, como textos escritos que são, os Evangelhos foram e ainda estão sendo submetidos à análise histórica, literária, à crítica textual etc, como qualquer outro texto da Antiguidade.
Quanto à sua origem, podemos dizer que os evangelhos começam com a pregação oral dos apóstolos, centrada em torno do “querigma” que anunciava a morte redentora e a ressurreição do Senhor. Acompanhavam essa primeira pregação relatos mais detalhados, como o da paixão. Vieram logo depois fatos curiosos da vida do Mestre que esclareciam sobre sua pessoa, sua missão, seu poder, por algum episódio ou palavra memorável, milagre, sentença, parábola etc. Os episódios transmitidos de viva voz e de forma isolada foram-se agrupando em pequenas antologias de palavras e ações. Surgiu, então, rapidamente a preocupação de pôr em escrito essa tradição. Em consequência, as palavras, ações e episódios relativos à figura e doutrina de Cristo tenderam a agrupar-se numa ordem cronológica; em ordem lógica, primeiro em pequenas seções, depois em conjuntos mais extensos. Apareceram os evangelistas, autores materiais dos quatro evangelhos.
— Que valor histórico têm os evangelhos? Sem dúvida, nem os apóstolos nem os demais pregadores e narradores evangélicos tentaram fazer “história” no sentido técnico da palavra. Seu propósito era menos profano e mais teológico; falaram para converter e edificar, para inculcar e ilustrar a fé, para defendê-la contra os adversários. Mas o fizeram apoiando-se em testemunhas verídicas e controláveis. Os redatores evangélicos fizeram-no com o mesmo afã de honrada objetividade que respeita as fontes. Resumindo: a) a origem apostólica e a gênese literária dos três sinóticos justificam seu valor histórico; b) se os três sinóticos não são “livros de história”, não é menos certo que não tentam oferecer nada que não seja histórico.
Isto não significa, por outro lado, que cada uma das ações ou palavras sejam considerados como reprodução rigorosamente exata do que aconteceu na realidade. O mesmo vale para a ordem em que estes se acham dispostos entre si. Há que reconhecer que muitas narrativas ou palavras evangélicas perderam sua relação primitiva com o tempo e lugar em que foram pronunciadas. Em todo caso, tais comprovações de modo algum anulam a autoridade desses livros inspirados pela fé dos cristãos.
BIBLIOGRAFIA: X. Léon-Dufour, Los evangelios y la historia de Jesus. Cristiandad, Madrid 1982. (Santidrián)