Única potência apetitiva na ordem espiritual, pode a vontade, como aliás a experiência o manifesta, encontrar-se no princípio de uma grande variedade de atos, amor, desejo, escolha, gozo, etc. Tomás de Aquino, na parte moral de sua obra, aplicou-se a classificar estes atos nos quadros gerais de uma teoria da atividade racional. Cada movimento particular de apetência vem em dependência de um ato de conhecimento que o comanda, de modo a se obter assim uma série de pares, seis ao todo, que integram o ato humano completo. Deixando à moral o estudo detalhado de todo este organismo, limitar-nos-emos aqui a enumerar o que pertence à vontade.
Considerando-se o fim a se conseguir, encontram-se sucessivamente o desejo ineficaz (simplex volitio) ou a simples complacência no bem apresentado ao espírito, e a intenção, tornada eficaz, deste bem (intentio).
Considerando-se os meios, intervêm na ordem da eleição, antes de tudo, os consentimentos (consensus) dados aos diversos meios que se apresentam como podendo assegurar a possessão do bem desejado; depois a vontade, na eleição (electio), escolhe um destes meios. Vem então a execução que supõe a aplicação pela vontade (usus activos) das outras faculdades na obra a se executar; e quando o fim foi obtido, resta à vontade comprazer-se no bem possuído (fruitio). Por mais seca que seja, esta nomenclatura já basta para dar uma ideia-da fineza de análise e do vigor da construção que Tomás de Aquino soube trazer ao estudo de nossa vida afetiva. (Gardeil)