SYNTELEIA = CONSUMAÇÃO, FIM


EVANGELHO DE JESUS:
o inimigo que o semeou é o Diabo; a ceifa é o fim (synteleia) do mundo, e os celeiros são os anjos. Pois assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim (synteleia) do mundo. (Mt 13, 39-40); PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO)

Assim será no fim (synteleia) do mundo: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, (Mt 13:49; PARÁBOLA DA REDE)


Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 60

Tudo isto (Cordeiro de Deus) o explicou Jesus, embora em parábola, e o transmite Mateus sem ceder em seu esboço parabólico, quando quis falar do ato último e solene preparado por Deus para nossa geração humana, uma vez cumprida a consumação do mundo (synteleia) e quando todas as gotas de luz, já redimidas, tenham acedido, como anjos acompanhantes do Filho, à escadaria do trono de glória de Deus.
*O evangelista salva em seu relato todo o imaginário que há no cenário parabólico; é o que recebe o relato quem deve exercer o trabalho inteligente de desmitificar a parábola para extrair como essência a profunda verdade ali apontada com certa abstração.

Em tal ocasião, as ovelhas — as gotas de luz — das quais o Cordeiro, o Filho do homem, é segundo a escritura, o modelo “sem mácula, macho e de um ano” (Ex 12,5), serão colocadas à direita, e os cabritos, representantes de todos aqueles componentes psíquicos que não aceitaram o desígnio purificador, serão postos à esquerda.

Parece que o densidade numérica dos hóspedes de um e outro lado do trono vem determinada pela eficácia do sacrifício do Cordeiro de Deus, que com seu alimento de pão de vida e sangue de remissão penetra no reino da alma, “mais cortante que espada de dois fios” (Hb 4,12), para tomar consigo depois, como botim celestial de sua obra, o Resto purificado para salvação. O novo tesouro assim produzido, a geração nova de ovelhas, tem como destino o redil verdadeiro conquistado, à direita do trono de Deus.

Todos os da direita estarão, segundo diz a parábola, para receber a herança do Reino preparada para eles desde a criação do mundo, e os outros, os anjos não lúcidos da esquerda, persistentes na separação, (o Diabo), serão enviados como a palha à consumação pelo fogo, posto que não chegaram a crer que a justa “synteleia” da vida no mundo, consiste naquela obra reunificadora que Jesus explica: “Que todos sejam um. Como tu, Pai, em mim e eu em ti, que elas sejam um em nós” (Jo 17,21).

O desígnio último do Pai se funda em que todas as “nações”, tanto as formadas por ovelhas, como as constituídas por cabritos, recuperáveis estes últimos para o reino pneumático segundo seja o exercício da liberdade, acabem em ser “um” quando as errôneas barreiras fronteiriças sejam quebradas pela e pelo conhecimento que traz a obra da . Este projeto parte do fato real de que todas as ilhas e nações psíquicas que cremos perceber só são o triste resultado inconsistente de permanecer enamorados de um eu limitado, separativo, que nunca foi plantado por Deus.

Por isso no dia da consumação o Filho do homem fará a declaração da unidade mais clara e completa que se relata no evangelho: “Tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber” (Mt 25, 31-46).

Evangelho de Tomé – Logion 113

Diz Mateus que então se acercaram a ele (a Jesus), “em privado”, seus discípulos; mas Marcos concreta que os discípulos que perguntavam, os que haviam conseguido “acercar-se” a Jesus o Vivente, foram só quatro, os quatro que nomeia.

É possível que “acercar-se” a Jesus o Vivente sentado no monte tenha que interpretá-lo como haver alcançado o estado de percepção superior que permite manter-se no mesmo nível de consciência do mestre. De qualquer maneira, a expressão “em privado” (gr. kat’inthiana), que nenhum dos dois evangelistas esquece, parece indicar que o discurso que vai se seguir não pode ser transmitido “em público”, tal como é, talvez porque sua linguagem não é do mundo. Sua natureza superior exige uma transcrição, uma alegoria parabólica, que o faça compreensível até certo ponto, em palavras do mundo.

Em Marcos aparecem duas perguntas, e em Mateus três; mas em realidade as perguntas segunda e terceira de Mateus se sintetizam na segunda de Marcos.

A primeira pergunta interroga sobre “quando”: Quando sucederá isso? “Isso”, segundo o contexto, é a destruição de todas as pedras do mundo, transitórias, que se acumulam sobre a pedra angular que foi “feita” pelo Senhor. Esta, a pedra verdadeira, suporta todas as construções perecedouras a ela aderidas. Quando caíram essas construções mundanas, para que o homem pneumático, só, puro, incontaminado, renda seus frutos?

A segunda pergunta interroga sobre o sinal, quer dizer, sobre os signos distintivos de que “isso”, a ressurreição do espírito, a liberdade do hóspede proscrito pela ignorância de cada homem, está a ponto de cumprir-se. Há que entender bem que os discípulos não pedem o sinal, que os permita reconhecer ao Ser verdadeiro em sua Vinda, porque esse sinal já se disse que não será dada a esta geração humana. O que pedem os discípulos é o sinal do cumprimento.

O cumprimento é a consumação (synteleia) da obra que o toca realizar a todo homem no mundo, e é, portanto, a Vinda, a “presença” não circunstancial senão permanente do Ser; é a glorificação do Espírito eterno que habita no templo e em suas edificações transitórias.

O cumprimento consiste entre outras coisas no que o homem sabe então que ele é de acima e não de abaixo como acreditava até que chegou a synteleia, e o sabe porque transferiu sua consciência ao homem “nascido de acima” (Nascer do Alto), ou o que é o mesmo, o sabe desde que instaurou o Reino de Deus em seu coração.

Este homem “novo” sabe que o mundo de abaixo é como nada, pois para ele o mundo encontrou seu fim (seu telos), concluiu em seu coração.

O discípulo adquiriu o poder de estar no mundo sem ser do mundo, o qual é a soma do discipulado. Nisso segue o discípulo os passos exemplares de Jesus, o qual, quando estava no mundo, não era do mundo no entanto, tal como o declarou a seus discípulos:

Vós sois de abaixo
eu sou de acima
Vós sois deste mundo
eu não sou deste mundo (Jo 8,23).