segundo nascimento

Em seu segundo nascimento, ao contrário, livre da ilusão transcendental do ego, o Filho que nunca se trouxe à condição que é a sua, experimenta ao mesmo tempo a vida como o que não cessa de levá-lo a esta condição e de dá-lo a ele mesmo. É pois nesta Vida que ele se encontra colocado antes de tudo – nesta Vida antes de sê-lo em si mesmo. Ali onde ele se encontra colocado antes de tudo, é dali também que parte sua relação com o outro. Ao mesmo tempo que sua relação consigo, que repete agora o processo de seu nascimento transcendental e exprime fenomenologicamente sua condição de Filho, é sua relação com o outro que se encontra, com efeito, profundamente transformada também. Uma vez que já não é antes de tudo, nele, o ego que fornece o ponto de partida da relação, está então, nesse Filho que ele é, a vida mesma. Igualmente, já não é com outro ego que ele se relaciona, mas, neste, com um Filho, com a Vida. Ali onde se encontra colocado antes de tudo o Filho, ali também se encontra antes de tudo o outro. Dali de onde provém o Filho, provém também o outro. Dali de donde ele parte, o outro também parte. A autodoação da Vida fenomenológica absoluta em que cada Filho é dado a ele mesmo é o “ser em comum” dos Filhos, a essência pré-unificadora que precede e pré-une cada um deles, determinando-o a priori ao mesmo tempo como um Filho e participante, simultaneamente, desta essência, em relação potencial, nela, com todos os Filhos concebíveis, e desse modo como “membro da família de Deus” (Efésios 2,19), de um “povo de propriedade particular de Deus…” (1 Pedro 2,9). Acesso ao outro não existe senão como acesso de um Filho a um Filho, no nascimento transcendental de cada um deles, na autodoação da Vida fenomenológica absoluta em sua Ipseidade essencial – não existe senão em Deus e no Arqui-Filho: “Formamos um só corpo em Cristo” (Romanos 12,5). (Michel Henry, MHSV)