ALMA — REENCARNAÇÃO
Julius Evola: DOUTRINA DO DESPERTAR
Da teoria da reencarnação, como especificamos, não se encontra traço algum no curso do primeiro período védico, e isto, porque ela é efetivamente incompatível com a visão olimpiana e heroica do mundo, e porque ela é a “verdade” própria a um tipo diverso de civilização, de iniciação telúrica e matriarcal. Com efeito, a reencarnação não é concebível senão por aquele que se sente “filho da terra”, que não conhece uma realidade transcendendo a ordem naturalista, ligada à divindades gineco-maternais, como no mundo paleo-mediterrânico, e que encontramos também entre os vestígios da civilização hindu pré-ariana, dravídica e kosoliana. Na camada da qual saiu, como entidade efêmera, o indivíduo, morrendo, se redissolverá, para reaparecer em novos nascimentos terrestres, ao longo de uma peripécia fatal e indeterminada. Tal é o sentido último da teoria da reencarnação, a qual começa já a se infiltrar no curso do período de especulação upanixádica, dando lugar, em seguida, a formas mistas, que devem nos servir como índices barométricos da modificação indicada na consciência ariana das origens. Enquanto para o além-túmulo, nos Vedas, não é essencialmente concebida senão uma só solução, tendo afinidades, como foi dito, com aquela da mais antiga Helade, nos textos brahmanas, já se faz alusão à teoria da dupla vida: “(Só) aquele que conhece e pratica a ação ritual ressuscita à vida e obtém uma vida imortal; os outros, que não conhecem e não praticam a ação ritual, renascerão sempre de novo, como um alimento da morte”. Todavia, nos Upanixades, assim como oscilando o reporte entre o Eu real e o atma, oscila também a doutrina do além-túmulo. Fala-se aí do “dique, além do qual mesmo a noite se torna dia, posto que o mundo do brahman é imutável luz”, dique constituído pelo atma, contra o qual nada podem, nem a decadência, nem a morte, nem a dor, nem boas obras, nem obras más. Fala-se também da “via dos deuses” — deva-yana — procedendo ao longo da qual, depois de morto, atinge-se o incondicionado e o “não-se-retorna-mais”. Mas considera-se também uma outra via — o pitri-yana — ao longo da qual “retorna-se”, o ser individual sendo, depois da morte, em seguida “sacrificado” a diversas divindades das quais se torna o “alimento”, para reaparecer enfim sobre a terra. Nos textos mais antigos, não se concebe uma possibilidade de liberação para aquele que vagueia esta segunda via: ao contrário, já se fala da “lei causal”, do karma, que determinaria a existência ulterior com base no que foi feito durante a precedente. Anuncia-se assim o que chamaremos a consciência samsarica, a qual constituirá a chave da visão budista da vida: o saber secreto, confiado às escondidas pelo sábio Yajnavalkya ao rei Arthavaga, é que no momento da morte os diversos elementos do homem se dissolvem nos elementos cósmicos correspondentes, aí compreendido o atma, que reentra no “éter”; e o que resta é somente karma, quer dizer a ação, a força anteriormente ligada à vida de um dado ser, e que desta irá determinar um novo ser.
Em tudo isto, há portanto lugar de ver bem mais que a cogitação de uma nova e arbitrária especulação metafísica: trata-se melhor do signo de uma consciência, a qual já se habitua a se considerar terrestre e, no máximo, panteisticamente cósmica, que já se põe ao nível da parte do ser humano, para o qual pode ser verdadeiramente questão de uma morte e de um renascimento, e em seguida de uma errância indefinida através das formas variadas da existência condicionada: dizemos “variadas”, posto que, pouco a pouco, os horizontes de expandiram e que foi até concebido, segundo as ações, uma ressurreição neste mundo ou naquele dos deuses. Como quer que seja, na época onde aparece o budismo, a teoria da reencarnação e aquela da transmigração faziam, doravante, parte integrante das ideias adquiridas pela mentalidade predominante. Todavia, e já nos Upanixades, visões distintas se uniram com promiscuidade, razão pela qual, de um lado, concebe-se um atma que, em não sendo um dado imediato da consciência, é suposto ser, sempre e intangivelmente, presente em cada um, e de outro lado, uma vagabundagem indeterminada do homem em diversas existências.
René Guénon: O ERRO ESPÍRITA; REENCARNAÇÃO
Whitall Perry: REENCARNAÇÃO
Ananda Coomaraswamy: REENCARNAR; BRAHMANAS E REENCARNAÇÃO; TRANSMIGRANTE; TRANSMIGRAÇÃO NO CRISTIANISMO