DUALIDADE — POLOS


René Guénon: Guenon Coração Cérebro

Acabamos de ver que, num determinado sentido, podemos considerar o coração e o cérebro como dois Polos, ou seja, como dois elementos complementares. O ponto de vista do complementarismo corresponde de fato a uma realidade de certa ordem, a um certo nível, poderíamos dizer; é ainda menos exterior e superficial que o ponto de vista da oposição pura e simples, que no entanto também compreende uma parte da verdade, mas apenas quando se trata das aparências mais imediatas. Com a consideração do complementarismo, a oposição encontra-se já conciliada e resolvida, ao menos até um certo ponto, na medida em que seus dois termos equilibram-se de algum modo entre si. Entretanto, esse ponto de vista é também insuficiente, pois deixa apesar de tudo subsistir uma dualidade: dizer que existem no homem dois Polos ou centros, entre os quais pode haver, conforme o caso, antagonismo ou harmonia, é verdadeiro quando se considera o homem num certo estado; trata-se porém de um estado que se poderia chamar de “descentrado” ou desunido” e que, enquanto tal, caracteriza exatamente apenas o homem decaído, separado portanto de seu centro original, como lembramos mais acima. É no momento da queda que Adão torna-se “conhecedor do bem e do mal” (Gen 3,22), isto é, começa a considerar todas as coisas sob o aspecto da dualidade. A natureza dual da “Árvore da Ciência” aparece-lhe quando se encontra fora do lugar da unidade original, à qual corresponde a “Árvore de Vida”.1

Seja como for, o certo é que a dualidade existe no ser apenas do ponto de vista contingente e relativo. Se nos colocarmos sob um outro ponto de vista, mais profundo e essencial, ou se considerarmos o ser no estado que lhe corresponde, a unidade desse ser deve encontrar-se restabelecida.2 Desse modo, a relação entre os dois elementos, que apareciam de início como opostos e depois como complementares, torna-se outra: é uma relação, não mais de correlação ou coordenação, mas de subordinação. Os dois termos dessa relação, de fato, não podem ser colocados num mesmo plano, como se houvesse entre eles uma espécie de equivalência; ao contrário, um deles depende do outro, por ter nele o seu princípio; e é esse o caso, respectivamente, do coração e do cérebro.


Henry Corbin: Corbin Homem Luz

Pero el norte sólo puede ser llevado a su significado pleno por un modo de percepción que lo eleva en una dirección simbólica, es decir, a una «dimensión del más allá» que no puede ser mostrada sino por algo que «simboliza con» ella. Así pues, se trata de imágenes primordiales que preceden y regulan toda percepción sensible, no de imágenes construidas a posteriori sobre un dato empírico. Pues allí donde se da el fenómeno, su sentido depende de esta imagen primordial: polo celeste en la vertical de la existencia humana, norte cósmico. Y allí mismo donde la latitud geográfica apenas permite suponer el fenómeno dado, su imagen-arquetipo existe. El «sol de medianoche» aparece en numerosos rituales de religiones mistéricas, lo mismo que resplandece, en la obra de Sohravardi, en el centro de un éxtasis cuyo héroe es Hermes. Otros maestros del sufismo iranio hablarán de «noche de luz», «mediodía oscuro» o «luz negra». Y éstos son los resplandores de aurora boreal que visualiza la fe maniquea en la columna gloriae formada por todas las partículas de luz que ascienden del infernum a la Tierra de luz, la Terra lucida, situada, como el paraíso de Yima, al norte, es decir, en el norte cósmico.


  1. V. Les Arbres du Paradis. A partir de certas comparações que podem ser estabelecidas entre o simbolismo bíblico e apocalíptico e o simbolismo hindu, resulta de forma muito clara que a essência da “Árvore de Vida” é, na verdade, o “indivisível” (Aditi, no sânscrito); mas isso nos afastaria muito do nosso tema.[]
  2. Pode ser lembrado aqui o adágio escolástico: “Esse et unum convertuntur”.[]