Midrashim

TRADIÇÃOTRADIÇÃO JUDAICA — MIDRASHIM

VIDE: Interpretação, Exegese, Sentidos da Escritura, Sentido Oculto

Inglês


C. del Tilo: Excertos de LA PUERTA

La palabra Midrash procede del verbo que significa escrutar e interpretar. Existen muchos Midrashim que son comentários redactados en hebreo de vários libros de la Escritura, versículo por versículo.

Estas composiciones se sitúan entre los siglos VI y X hasta el siglo XII. Constituyen una suerte de prolongación del Talmud. Los Principales son el Midrash Rabbá, el Midretsh Tanhuma, el Midrash ha Gadol, los Pirqé de Rabi Eliezer, etc.

René de Tryon-Montalembert & Kurt Hruby: A CABALA E A TRADIÇÃO JUDAICA

PARÁBOLAS DOS MIDRASHIM

É possível estabelecer uma relação entre estes escritos incontestavelmente esotéricos e certos midrashim onde se introduziu um bom número de tradições muito mal aceites pelos mestres oficiais. Estes últimos recusaram-se, com efeito, a inserir textos com passagens por vezes um pouco estranhas nas compilações de carácter mais clássico, cujo conjunto veio a constituir o Talmude.

E onde é que estas tradições, simultaneamente poéticas e místicas, onde é que estas interpretações ricas em símbolos e alegorias podem encontrar refúgio? Seguramente não no meio das questões de ordem jurídica que se agrupam na Halakhah. Ficam mais bem situadas no seio da Aggadah, que reúne as considerações tocantes ao domínio da moral. Mas a sua redação iria acabar de um modo assaz rápido e definitivo. Os Midrashim formaram-se para a substituírem, visto que se apresentam habitualmente à maneira de verdadeiros tipos literários de estilo original, susceptíveis de acolherem uma enormidade de variantes e variedades.

Assim, depois das gerações dos Tannaim («ensinamentos», século III d.C.) e dos Amoraim («chamamentos», do século III ao século IV) que tinham trabalhado para a formação dos Talmudes de Jerusalém e da Babilônia, os gaonim — e entre eles os chefes das academias de Sura e Pumbadita, na Mesopotâmia — iriam marcar de uma forma profunda o período que se estende do século VI ao século XI e que se carateriza por uma literatura parabólica dos Midrashim.

Destes Midrashim apresentamos agora dois espécimes caraterísticos: A História do Anjo Raziel às portas do Éden e Uma Lição de Botânica. Falaremos em primeiro lugar da história do anjo Raziel, que apareceu a Adão. Este último vinha suplicando a Deus, numa longa oração, que lhe restituísse a ciência misteriosa de que a sua cobiça imoderada o tinha privado, quando, poisando o seu olhar sobre a árvore da Sabedoria, apareceu, brilhante entre os seus ramos, o fruto desejado e amargo. O anjo tinha nas mãos um livro, mas este livro estava selado; é pelo selo divino que estão fechadas as páginas, «Porque é que», pergunta o anjo, «tu tens uma cara tão triste? Venho satisfazer o desejo expresso na tua oração. Toma este livro: ele ensinar-te-á tudo o que te vai acontecer até ao dia da tua morte. E não somente a ti, mas a teus filhos e a todas as gerações vindouras, que nele poderão encontrar semelhante ensinamento.» O anjo quebra então o selo e começa a leitura. Depois, entrega o livro a Adão e desaparece envolto numa grande luz. Chamamos a Raziel «o detentor da chave das ciências terrestres», porque as suas revelações versam sobretudo as estações e os dias, os ventos e os: planetas, os signos do Zodíaco, e também as grandes caçadas, a escassez e as colheitas.

Quanto ao outro Midrash, começa também por um queixume. O queixume de Noé, que enumera ao Eterno todos os malefícios ocasionados pelos demônios. Deus responde-lhe enviando à terra o anjo Gabriel. Este começa por aprisionar nove décimos dos demônios — somente nove décimos, porque é preciso que um décimo continue disponível para castigar as pessoas más. Depois toma Noé pela mão e leva-o às montanhas. Aí administra-lhe uma verdadeira lição de botânica, fazendo-lhe passar em revista todas as plantas aromáticas (todos os «simples», dir-se-ia alguns séculos mais tarde), todas as plantas odoríferas e sobretudo aquelas que podemos qualificar de resinosas, porque a resina era tida com um poderoso antisséptico e empregue contra os dois flagelos da época: a peste e a lepra.

Outros Midrashim convidam o leitor a uma espécie de viagem aos infernos que apresenta curiosas semelhanças com a Divina Comédia de Dante.