Linguagem

TradiçãoLÍNGUA — LINGUAGEM — LETRAS — ESCRITA

Raimon Panikkar: Toda linguagem é mais que um som, porque “diz algo” que está além do dizível. A linguagem é comunicação porque o que comunica ultrapassa a linguagem. A linguagem, com efeito, é a arte de exprimir o inefável. Este inefável é o sentido da linguagem na linguagem mesma.

Em seu notável livro “MISTÉRIOS E SÍMBOLOS CRÍSTICOS”, Canteins faz notar que cada ciência está tradicionalmente sob o signo de um Profeta — um pouco a maneira pela qual as corporações de ofícios, no Ocidente, se dotaram antigamente de um “patrono”, ordinariamente um Santo e por vezes um Apóstolo, como Lucas para os artistas pintores. É assim que, segundo Ibn Arabi, a “Ciência das Letras”, que ele mesmo sabiamente expôs, é uma ciência “îsawî”, quer dizer uma ciência “crística” que se anuncia e é “herdada” de Jesus (“Ïsâ” no Sufismo). [[Jean Canteins: “Mistérios e Símbolos Crísticos”]


A linguagem, como há muito tempo observou Richard Trench, é inúmeras vezes “muito mais sábia, não simplesmente a linguagem vulgar, mas até a do mais sábio daqueles que a falam. Algumas vezes ela capta verdades que antes eram bem conhecidas, mas que foram esquecidas. Em outros casos mantém os germes das verdades que, embora nunca plenamente discernidas, o gênio dos que as vislumbraram capturou num feliz momento de intuição.” (Aldous Huxley: Sabedoria da Linguagem)


Nesta inovadora abordagem fenomenológica da verdade da tradição cristão, Michel Henry oferece na introdução uma análise ímpar da questão historiográfica e da questão da linguagem, enquanto aspectos da maior relevância antes de qualquer abordagem (O que chamaremos cristianismo?). (Michel Henry: Eu sou a verdade)


Se em seu discurso sobre ele mesmo, o Cristo se designa como Filho de Deus, de “Seu Pai”, de mesma natureza que ele, falando em seu nome e dizendo o que seu Pai lhe disse, o que seu pai Diz, então a questão à qual fizemos alusão de cara se estabelece com uma força intacta. O Cristo, em razão de sua dupla natureza, não se dirige a nós d duas maneiras diferentes, ora em uma palavra de homem, ora como a Palavra mesmo de Deus? Logo, uma análise crucial destas duas formas de palavra não se impõe, apesar da dificuldade que levanta? Se nos é fácil hoje em dia falar da linguagem humana, de sua natureza, de sua capacidade de estabelecer entre os homens uma comunicação, e isso em razão do desenvolvimento da filosofia contemporânea da linguagem, a possibilidade de analisar da mesma maneira a Palavra de Deus parece além de nosso alcance. De quais elementos dispomos aqui? Não seria necessário saber o que é Deus para conhecer “a maneira pela qual nos fala e para compreender esta”? Ou ainda: como uma linguagem que seria aquela de Deus poderia ser bem entendida em nossa linguagem própria? Nesta pretendida linguagem de Deus que adotaria a estrutura de uma linguagem humana, apreenderíamos sem dúvida o que nos permite captar. Certamente, nas palavras de Cristo anotadas nas Logia e transmitidas pelos Evangelhos, compreendemos muitas coisas, e coisas impressionantes. Mas a questão suprema não é aprender “em que esta Palavra é de proveniência e de essência divinas, e assim de saber, de uma saber invencível, que ela é aquela de Deus com efeito — e de mais ninguém? (Michel Henry: Palavras de Cristo)


Muitas vezes a aproximação de certas ideias filosóficas e místicas associadas ao esoterismo se dá através de palavras. De acordo com algumas escolas de pensamento, há um nível além que a palavra escrita cessa de ser um veículo útil para a comunicação de ideias muito elevadas. Neste estágio, que pode ser chamado o nível do silêncio, as ideias tomam algumas das qualidades de emoção e intuição, qualidade que procedem em um diferente tempo das funções mentais. Isto é porque os maiores escritos sagrados não são escritos de acordo com as convenções de literatura, e parecem falar em enigmas, cheios de mistérios e enigmas poéticos; estão falando para níveis em nós que estão acima de nossa mente ordinária.

A limitação dos livros é que comunicam em uma situação onde o contato humano entre escritor e o leitor é ausente. Nenhum tem a oportunidade de levar em conta a experiência, conhecimento, possibilidade espirituais e emocionais do outro. E ainda, para a transmissão de conhecimento mais alto, tal relacionamento é essencial. Além dos estágios preliminares, a transmissão não pode ter lugar sem o ensinamento direto de pessoa a pessoa. Cristo, como todos grandes mestres, ensinou oralmente. E aqueles que receberam ensinamento diretamente, também, por sua vez, ensinam oralmente. Disto foi estabelecida a “tradição oral”, que é mais importante e mais direta do que a tradição escrita, mas que é invisível ao historiador.

Um mestre conhece como preparar o solo, sabe quais são os estudos preliminares e exercícios que capacitarão o estudante a compreender ideias mais altas e apreender pensamentos que não podem ser percebidos pela parte ordinária da mente. Como se vê no estudo da Philokalia, este trabalho preparatório inclui os lados emocional e físico de um homem assim como o mental. Sem tal equilíbrio, essa abordagem multilateral a mente só não pode garantir que as ideias esotéricas não será distorcida.

A participação em um mais alto conhecimento está condicionada por uma estado de ser mais alto. Neste nível as palavras têm um valor diferente daquele que têm em nosso nível ordinário. Podem ser veículos para um certo nuance de sentimento, um momento de insight ou intuição, uma emanação de uma energia psíquica altamente refinada. Tendo servido seu propósito são instantaneamente dispensadas; é a energia, e não as palavras, que podem continuar a agir positivamente. ( Richard Temple )


En la filosofía occidental contemporánea, se ha destacado especialmente el poder «tiránico» del lenguaje, la gran influencia formativa ejercida por los esquemas linguísticos en nuestro pensamiento. Esta influencia es particularmente visible en la formación de la visión «esencialista» de las cosas.

Desde el punto de vista del «existencialismo» absoluto, no hay compartimentos estancos en el mundo del Ser. Sin embargo, el hombre «articula», o sea divide en segmentos, por lo general de un modo arbitrario, este conjunto originalmente indiviso. Un segmento de Realidad se cristaliza en una «cosa». El nombre que se le da le imprime fijeza «esencial», protegiéndola de la desintegración. Para bien o para mal, éste es el poder del lenguaje. En otras palabras, el lenguaje apoya el «esencialismo».

Una vez que se ha establecido una «cosa» con un nombre determinado, el hombre puede fácilmente pensar que la cosa es esencialmente eso y nada más. Si una cosa se llama A, adquiere «A-idad», o sea «esencia» de A. Y dado que es A «en esencia», nunca puede ser otra cosa más que A. En estas condiciones, difícilmente puede uno imaginar que dicha cosa sea B, C o D. De este modo, la cosa se convierte en algo inalterablemente fijo y determinado.

Zhuangzi advierte esta relación fundamental entre el «esencialismo» y el lenguaje porque considera el asunto desde el punto de vista de la Vía absoluta en que, como ya hemos señalado repetidas veces, no hay ni rastro siquiera de determinaciones «esenciales».

La Vía no tiene «límite» alguno. Ni posee el lenguaje que produce y expresa esos «límites» absolutamente ninguna permanencia.

Pero cuando se establece la correspondencia entre ambos, surgen los verdaderos «límites» ( esenciales ).

(Toshihiko Izutsu – Sufismo e Taoismo)