Hierofania

SAGRADO — HIEROFANIA

VIDE: epifania

Henry Corbin

No pretendemos en absoluto relegar al “terreno de la leyenda” la historia sagrada del zoroastrismo, pero esencialmente se puede decir lo siguiente: en cualquier lugar que haya podido ocurrir el acontecimiento histórico, en el sentido vulgar de la palabra, en su realidad exterior y material, comprobado por los sentidos de los testigos, para que la notificación del Acontecimiento llegara hasta nosotros en su identidad espiritual, a pesar de la diversidad de las localizaciones físicas, ha sido necesario un órgano de rememoración que actúe de una forma muy distinta a como lo hace nuestra ciencia positiva que, atenta a lo que considera “hechos”, tiene en cuenta tan sólo el acontecimiento en su aspecto físico. Este órgano de rememoración y de meditación religiosa es precisamente la Forma imaginal que, al proyectarse sobre espacios geográficos materialmente diferentes, ha podido transformarlos conduciéndolos hacia sí misma como Centro, de modo que el espacio hierofánico esté siempre y cada vez en el centro. La Imaginación activa ha podido entonces consagrarlos como lugares sagrados e identificarlos cada vez con claridad como Tierra de las visiones; a la inversa, cierta cualidad material (incluso “histórica”) de espacios diversos no hubiera podido imponer la evidencia de su sacralización, ni decidir su identidad o, por el contrario, hacer cometer el “error”. Las hierofanías tienen lugar en el alma, no en las cosas, y el acontecimiento del alma es el que sitúa, califica y sacraliza el espacio en el que es imaginado.

Mircea

O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato da manifestação do sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo é cômodo, pois não implica nenhuma precisão suplementar: exprime apenas o que está implicado no seu conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela. Poder-se-ia dizer que a história das religiões — desde as mais primitivas às mais elaboradas — é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas manifestações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania — por exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou uma árvore — e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade. Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a manifestação de algo “de ordem diferente” — de uma realidade que não pertence ao nosso mundo — em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo “natural”, “profano”.

O homem ocidental moderno experimenta um certo mal estar diante de inúmeras formas de manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras ou árvores, por exemplo. Mas, como não tardaremos a ver, não se trata de uma veneração da pedra como pedra, de um culto da árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada não são adoradas com pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque “revelam” algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado, o ganz andere.

Nunca será demais insistir no paradoxo que constitui toda hierofania, até a mais elementar. Manifestando o sagrado, um objeto qualquer torna-se outra coisa e, contudo, continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico envolvente. Uma pedra sagrada nem por isso é menos uma pedra; aparentemente (para sermos mais exatos, de um ponto de vista profano) nada a distingue de todas as demais pedras. Para aqueles a cujos olhos uma pedra se revela sagrada, sua realidade imediata transmuda se numa realidade sobrenatural. Em outras palavras, para aqueles que têm uma experiência religiosa, toda a Natureza é suscetível de revelar-se como sacralidade cósmica. O Cosmos, na sua totalidade, pode tornar-se uma hierofania.