Hierarquia

COSMOLOGIA — HIERARQUIA


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Edith Stein: Les Voies de la connaissance de Dieu : La Théologie symbolique de Denys l’Aréopagite

Um leitmotiv corre através tudo que nos foi transmitido de Dionísio o Areopagita. Alberto o Grande o enunciou no prólogo de seu Comentário de Dionísio, resumido em uma breve sentença do “Predicador” (qohelet, Eclesiastes): Ad locum, unde exeunt, flumina reventuntur, ut iterum fluant (Em direção ao lugar donde correm os rios, é por aí que eles continuarão a correr). Isto deve ser entendido a princípio como indicando a “ordem do ser”. Tudo procede de Deus, o Princípio, e retorna a Ele; o “iterum fluere”, depois o retorno unificante, não significa uma separação, mas o fato que o superior se debruça sobre o inferior para o conduzir mais alto. Nisso reside uma segunda lei fundamental da visão dionisíaca: a ordem por graus, que ele denomina hierarquia. Ele mesmo a define como “a ordem inteira das coisas (ou substâncias) sagradas”. Seu ofício é de conduzir todo o criado ao Criador.

Como a lei da saída e da reentrada — do exitus e do reditus — da qual ela se refere, a hierarquia não é somente uma ordem do ser, mas igualmente uma “ordem do conhecer”. Saída da Luz inacessível, da qual super-luminescência oculta aos olhos das criaturas o Ente primordial, um raio que são capazes de ver alcança os seres mais próximos dela, os espíritos puros superiores, os ilumina e, multiplamente difratada, desce para as ordens inferiores, até as criaturas mais humildes, ainda capazes de receber alguma luz. Em certo sentido, é todo ente que esta que está implicado. Pois mesmo se todos os seres não podem receber a iluminação divina que os tornaria capazes — como é o caso para os espíritos criados, os homens e os anjos — de conhecer Deus e de se voltar livremente para ele, os seres inferiores, desprovidos de razão, até de vida, são igualmente aptos a servir de “instrumento” e de “símbolo” para significar o ser e o agir espiritual e divino. É a este título que entram na ordem hierárquica do ser e do conhecer, que figuram nos escritos do Areopagita onde ele trata da hierarquia celeste e eclesiástica. Mas somente os espíritos celestes e as ordens consagradas da Igreja são “suportes” do efeito hierárquico, donde mensageiros de Deus, denominados a difundir a luz celeste através da Criação.


Filosofia
Plotino: (Enéada V, IX, 1)

Todos os homens, desde o princípio, usam os sentidos antes do entendimento, e aplicam-se primeiro, necessariamente, às coisas sensíveis; alguns nisso permanecem, crendo toda sua vida que essas coisas são as primeiras e as últimas, e que a dor e o prazer que nelas se encontram são o mal e o bem, e afigura-se-lhes que basta viver procurando um e evitando o outro. E entre estes, os que usam a razão afirmam que isso é a sabedoria: são como as aves pesadas, que participam muito da terra e devido a seu peso não podem voar alto, embora a Natureza lhes haja dado asas. Os outros elevam-se um pouco das coisas inferiores, pois o superior da alma os move do agradável ao melhor. Porém, incapazes de ver o superior, e como não possuem outra coisa onde se apoiarem, precipitam-se, com o nome da virtude, sobre as ações e escolhas entre as coisas inferiores, das quais haviam primeiro tentado elevar-se. A terceira raça de homens, divinos por sua capacidade superior e pela agudeza de sua vista, vê com seu olhar penetrante o esplendor do alto, como que se eleva por cima das nuvens e da obscuridade daqui, e lá permanece, contemplando todas as coisas aqui de baixo: deleita-se nesse lugar de verdade que lhe é próprio, como um homem que depois de uma longa peregrinação chega a uma pátria bem governada.