Michel Henry EU SOU A VERDADE (MHSV)
Residindo em sua condição de Filhos, o “ser em comum” dos Filhos é flutuante como ela. Em que a condição de filho é flutuante? Não é ela, ao contrário, uma essência que escapa à variação e que deve imperativamente estar presente e ser preservada em sua estrutura inalterada, sem o que não haveria Filho precisamente, nenhum homem no sentido do cristianismo? Mas, segundo o cristianismo, o conceito de Filho se desdobra em função de que, esquecido de sua condição precisamente, decaído de seu esplendor original, de-ge(ne)rado, lançando-se no mundo e fascinado por ele, o filho perdido não se preocupa com mais nada além deste mundo e com tudo o que se mostra nele. Nesta queda, sua relação consigo é modificada de alto a baixo: já não se tem sua relação consigo na Vida, a experiência que ele fazia, experimentando-se a si mesmo, da experiência de si da Vida absoluta nele. Esta experiência de si de que ele tem constantemente sua condição de vivente, ele a atribui a si mesmo. Assim, ele se encerra em si mesmo. A experiência que ele faz da Vida nele tornou-se a experiência de sua própria vida, da vida dele pura e simplesmente. De Filho tornou-se um ego, este ego que se toma pelo fundamento dele mesmo e de tudo o que ele faz. Entrou no sistema do egoísmo transcendental, sistema em que ele só se preocupa consigo; de tal modo, que sua relação consigo já não é sua relação consigo na Vida – em Cristo e em Deus –, mas sua relação consigo na preocupação consigo: através do espaço de um mundo. O que se encontra oculto nessa relação consigo do Si em preocupação consigo no mundo não é nada menos que seu Si verdadeiro, que só é dado a ele na autodoação da Vida absoluta, fora do mundo, longe de [356] toda Preocupação. O que se encontra oculto, ao mesmo tempo, é esta Vida absoluta, é o próprio Deus.