Como, então, a Verdade do Verbo está em mim, em cada Si transcendental vivente? Em sua vinda a si na vinda a si da Vida absoluta em seu Verbo — em seu nascimento transcendental. Só aquele que escuta em si o barulho de seu nascimento — que se experimenta a si mesmo como dado a si na autogeração da Vida absoluta em seu Verbo –, aquele que, dado a si mesmo nessa autodoação do começo, já não se experimenta, propriamente falando, a si mesmo, mas apenas a esse Si que o dá a ele mesmo: só este pode dizer a esse Si do Verbo: “Estou certo da verdade que está em Ti”.
“Estou certo da verdade que está em Ti” quer dizer agora: tenho minha certeza, minha verdade da verdade que está em Ti, tenho minha [379] vida da tua, “já não sou eu que vivo, és tu que vives em mim”. Como “Deus se engendra como a mim mesmo” e como, portanto, “Deus me engendra como a si mesmo”, então, com efeito, pois que é sua vida que se tornou a minha, minha vida já não é senão a sua: eu sou deificado, segundo o conceito cristão de salvação.
Só aquele que crê em Cristo, que diz: “Estou certo da verdade que está em Ti”, só este compreende e pode compreender a Palavra das Escrituras, a Palavra da Vida que lhe diz: é em mim que tu tens a vida, “tu és meu Filho”. Essa Palavra, ele a lê nas Escrituras, mas não pode lê-la nesta senão porque é ela que fala nele, que lhe fala, que lhe fala na palavra que lhe dá a Vida. “Que lhe fala”: que o gera em si como o que, experimentando-se a si mesmo nela, já não experimenta subitamente nela senão sua Parusia. (Michel Henry, MHE)