LOGIA JESUS — LEVANTADO DA TERRA… (Jo XII, 27-34)
27 Agora meu ser se perturba.
Que direi? Pai, livra-me desta hora?
Mas foi para isto que cheguei a esta hora…
28 Pai, glorifica teu nome!»
Então, vem uma voz do céu:
«Glorifiquei e glorificaret novamente.»
29 Então a multidão que está presente ouve e diz: «E o trovão.» Outros dizem:
«E um mensageiro que lhe fala.»
30 Iéshoua responde e diz:
«Essa voz não era para mim mas para vós.
31 Agora é o julgamento desse universo.
Agora, a cabeça desse universo foi jogada fora. ‘
32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.»
33 Ele diz isso por alusão à morte de que deve morrer.
34 A multidão responde:
«Aprendemos pela torá
que o messias permanece em perenidade.
Como dizes que o filho do homem deve ser levantado? Quem é esse filho do homem?» [Chouraqui]
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 38
O evangelista sabe que o verdadeiro sentido da expressão “levantar” (no subjetivo: “glorificar”), não é fácil revelá-lo, e por isso põe na boca da “gente” a pergunta: “Como dizes tu que é preciso que o Filho do Homem seja levantado?” (Jo 12,34).
Cristo “permanece para sempre”, e em todo tempo é igual a si mesmo. é o olhar que contempla ao Filho do Homem ao que deve “levantar” a imagem que ela tem em si mesma até conseguir que sua imagem seja igual, idêntica, ao Filho e, portanto, “uma com ele”. O resultado disto é saber que “Ele-é”, ou melhor, saber que “Ele-é-Eu”.
Muito de acordo com isso, há uma explicação do Apostolo: “Todos nós, que com o rosto descoberto refletimos como em um espelho a Glória do Senhor, nos vamos transformando nessa mesma imagem, cada vez mais gloriosa, conforme a ação do Senhor que é Espírito” (2Co 3,28).
A Glória do Senhor (do Pai), é o Filho do Homem e essa é a Glória que o que recebeu a unção e é agora o Cristo interior, reflete em seu rosto, uma vez rompeu o véu que o impedia contemplar a presença do Espírito.
Mas contemplar é refletir, ver “como em um espelho”, posto que somente “em enigma”, em espelho, é possível a contemplação quando se exerce desde este lado, desde o lado de abaixo do “horos” da cruz que a cada um lhe é própria. Mas ver em espelho é somente uma maneira confusa, imperfeita, de ver, pois o olhar há que levantá-la, pelo menos, até o limite da cruz.
O limite pode ser morte e também pode ser Vida eterna, e essa medida o dá a fé, pois como disse Isaías: “É o Senhor que estende o cordel de confusão e nível de vacuidade”. O limite é a cruz e seu mistério.
Levantar-se é transformação, acudir desde a terra até o Filho do Homem, e isso consiste em ser não a imagem nossa, no como um espelho da imagem que temos, senão em ser “uno” com a Glória do Senhor, “conforme à ação do Senhor em nós”.
Por isso diz Jesus: “Caminhai, enquanto tendes a luz” (Jo 19, 37). Crer na luz é o fundamento de tudo, mas logo há que “levantar” o olhar que mira ao Filho do Homem para olhá-lo não na terra, senão na perfeição. Isto quer dizer que há que olhar ao “stauros”, ao traço vertical que penetra na altura, de baixo para cima, até transpassá-lo, até cravar a lança do olhar além do véu que se rasga, misericordioso, de acima abaixo, e sai a nosso encontro.
Isso é o que quer indicar o evangelista quando recorre à Escritura: “Olharão ao que transpassaram” (Jo 19,37). Como se dissesse com o salmista: “As portas de bronze quebraram” (Sl 107, 16). Uma vez tenha sido transpassado o firmamento de bronze polido que Deus pôs sobre a cabeça do homem, conhecerá cada um, transformado e livre do enigma da imagem, “de um modo perfeito, tal como é conhecido” (1Co 13,12) pelo único conhecedor.
Referindo-se ao Filho do Homem diz o Apocalipse : “Olhai, vem acompanhado de nuvens; todo olho o verá, também os que o transpassaram, e por ele farão duelo todas as raças da terra”.
Mas só farão duelo aquelas raças que seguem apegadas à terra, as que não se levantam até o Filho do Homem que os chama desde a eternidade que levam em si mesmos, para subir com ele à cruz, e logo transpassá-la.