Jane Leade — AS LEIS DO PARAÍSO
Jane Lead. As leis do paraíso (1695), prefácio, trad. parcial: S. Hutin, Les disciples anglais de Jacob Boehme aux XVIIe et XVIIIe siècles (Os discípulos ingleses de Jacob Boehme nos séculos XVII e XVIII), Denoël, 1960.Trad. Yara Azeredo Marino
Uma contemplação visionária
A uma determinada pessoa, que havia sido maravilhosamente conduzida, no curso de numerosos anos, pelos caminhos de Deus, um dia, após uma contemplação profunda do mundo paradisíaco, apareceu, em meio a uma nuvem muito brilhante, uma mulher de modos doces e majestosos, o rosto brilhante como o sol e vestida de ouro transparente, que disse: “Olhe! sou a eterna e virgem Sabedoria de Deus, que você tem procurado conhecer: vou revelar a você os tesouros da profunda Sabedoria de Deus, e serei (para você), o que Rebeca foi para Jacó, uma verdadeira mãe natural; pois você será modelada pelo meu seio na forma de um espírito, concebido e nascido de novo: você o saberá por um novo movimento vital, agitado e gerador de inquietação, até que a Sabedoria nasça nas partes mais íntimas de sua alma. Medite agora sobre as minhas palavras, até que eu volte ao seu encontro”. Três dias depois, a mesma Figura apareceu àquela pessoa [Mrs. Lead adora falar de si mesma na terceira pessoa] em um clarão e uma glória maior, e trazendo uma coroa sobre a cabeça. Ela disse: “Veja sua Mãe e aprenda que você deve se aliar a mim para obedecer às leis da nova criação que lhe será revelada”. E, lá em cima, ela apresentou àquela pessoa um livro de ouro selado com três selos, declarando que ali encontraria expostos os profundos mistérios da Sabedoria divina, selados há muito tempo, mas que agora seriam revelados e manifestados aos filhos que ela geraria no Coração e no Espírito novos. Seis dias depois, a visão retornou e a Rainha virgem surgiu na mais esplêndida majestade, acompanhada de um inumerável cortejo de espíritos virginais e de um grande exército angélico. Ele chamou aquela pessoa pelo nome, dizendo ter vindo vê-la em companhia de seus recém-nascidos, e convidou esta última a se juntar a eles. Após uma rápida aquiescência, a referida pessoa foi admitida imediatamente. Depois a Virgem divina declarou: “Não mais aparecerei sob forma visível, mas não deixarei de me transfigurar em seu espírito, e de nele ampliar a fonte de sabedoria e de entendimento…” E da mesma forma que a Lei foi dada outrora a Moisés, levado ao monte Sinai para conversar com Deus, do mesmo modo coube a Deus nosso Pai revelar, nestes dias derradeiros, a Lei do Paraíso àquele espírito que foi, alguns anos depois, levado, com esse fim, ao monte Sion para recebê-la. Não há dúvida de que aqueles santos mandamentos, recebidos dessa maneira, serão transmitidos a muitas almas despertas.
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Existe um Paraíso místico, assim como um (Paraíso) local, que se abre a partir de um centro puro e mágico, e que é um estado maravilhoso para se conhecer e para se contemplar. Existe principalmente nas visões, revelações, ideias, apresentações, manifestações divinas, em sons, trombetas, vozes, palavras interiores, em poderes, arrebatamentos, alegrias e sentimentos sensíveis, todas essas fontes douradas que surgem do âmago da nova terra paradisíaca.