Laude Invocação

Patrick Laude — Orar sem cessar
VIDE: Nome de Jesus
O caminho da invocação
O caminho da invocação, algumas vezes referido como oração jaculatória ou caminho do Nome — nama-japa ou japa-yoga na Índia — pode ser definido como a invocação metódica, confiante e virtualmente — ou atualmente — permanente de um Nome Divino ou uma fórmula sagrada. As modalidade da prática variam muito, desde cantar alto até a concentração silenciosa no coração. Este caminho é praticado e vivido dentro do contexto de uma tradição religiosa — com suas várias demandas rituais, morais e legais, das quais constitui a perfeição, pelo menos em termos de sua finalidade última, i.e., como perfeita conformidade e união com o Divino. Dentro do quadro desta tradição, a prática metódica da invocação normalmente requer uma autorização na forma de uma indução ou iniciação em uma regra espiritual ou uma ordem contemplativa sob a condução de um instrutor espiritual. Como no caso do engajamento monástico, pode também tomar a forma de um voto. Em outras palavras, esta prática não pode ser iniciada e perseguida em um espírito individualístico de improvisação sem incorrer em grave perigo; e não pode ser artificialmente cortada do universo religioso no qual desdobra. Pode, no entanto, em alguns caso substituir — como um modo contínuo e integrado de oração — virtualmente todas as outras práticas que definem uma religião. Cabe insistir que se ocasionalmente assim faz, é somente com base em uma imersão profunda na prática invocatória e certamente não como um ponto de partida.

Indivíduos modernos, quando ainda reconhecem a necessidade para salvação e a liberação, estão frequentemente desejosos de persegui-la apenas sob uma condição, que seja definida em seus próprios termos. Fomos ensinados desde o berço que somos mestres de nosso próprio destino, e que nenhum impedimento externo deveria pesar no caminho que “nos encontramos” ou “estamos com Deus”. O amplo sucesso das liturgias improvisadas, adequadas e trivializadas dão testemunho a esta tendência no mundo moderno. Quando considerado do mais alto ponto de vista esta tendência contemporânea aos métodos self-made pode em seu melhor ecoar um senso difuso de liberdade interior e uma intuição obscura do fato que “há tantos caminhos para Deus quanto há almas”. Mas a questão não é tão simples nem tão unilateral, pois nosso livre arbítrio não modifica em nada o predicamento de nossa humana relatividade e não podemos alcançar Aquilo que nos transcende através de meios que originam apenas de dentro de domínio individual. Buscar salvação ou liberação em seus próprios termos é uma contradição em termos: a salvação ou a liberação pode ter lugar somente nos termos do Outro. Somente o Outro pode nos salvar de nós mesmos, tanto mais quando se trata de ir além de nossa individualidade.

A liberação espiritual, em um ou outro nível, pressupõe e coincide com — no nível da intenção — uma realização atual, uma “mudança do coração”, ou uma modificação interior através da qual o centro de consciência desloca-se do individual ao Divino, dito, Graça, Deus, o Supremo Eu — Ele único a dizer “Eu sou Aquele Eu sou”. Eis porque o primeiro passo da cominho espiritual sempre implica elementos de obediência e submissão, de passar através da “porta estreita”. Quanto a seu pico ou ápice, só pode emergir triunfante dos destroços de uma morte interior. Os seres humanos não podem se salvar a si mesmos por seus próprios meios: o Nome ou a fórmula sagrada é a síntese dos meios transcendentes que receberam do Divino Outro de modo que possam realizar, se Deus quiser, que ultimamente não há nenhum Outro. A invocação é a síntese da Religião como tal, a totalidade sagrada integral e integrante sem a qual o homem em seu estado ordinário desintegrado nada pode fazer. É porque o Nome pode ser visualizado como uma síntese da totalidade que os Cabalistas podem afirmar que toda a Torá está incluída no Tetragrama — as quatro consoantes hebraicas do Supremo Nome de Deus — ou que os Sufis podem considerar que o Corão, fonte de toda Lei sagrada, procede do Nome Alá.