Klimov (JBC) – Ungrund é o Espírito não manifesto

Ungrund é o Espírito não manifesto. Esse ponto impressionou particularmente Berdiaeff que, tendo, como sabemos, meditado longamente sobre os escritos de Boehme, chegou a estabelecer uma distinção muito clara entre Espírito e Ser, escrevendo em particular em De l’esclavage et de la liberté de l’homme: “Os místicos ensinaram corretamente, e essa foi a profundidade de seus ensinamentos, que Deus não é o Ser, que a noção restrita de Ser é inaplicável a Deus: Deus é, mas não é o Ser. (…) A noção de Ser não pode ser a base da filosofia, pelo menos porque é uma noção com um duplo significado” (tradução de S. Jankelevitch, Paris, Aubier, 1946, PP. 81-82). Esse duplo sentido está ligado a uma dificuldade notavelmente identificada por Bréhier: “O ser se opõe não a uma espécie, mas a duas espécies de não-ser; o não-ser que é sua negação absoluta, pura e simples, e o não-ser que é a origem e a fonte do ser. Você pode ver a dificuldade desse segundo não-ser; assim que você tenta determiná-lo e alcançá-lo por meio do pensamento, você o torna um ser e, a partir de então, ele não é mais uma origem; e porque ele é um ser, você tem que perguntar novamente qual é a sua origem. Se, por outro lado, você o deixa completamente indeterminado, ele parece não diferir em nada do puro não-ser e, consequentemente, não é mais a origem do ser. Você deve tanto colocar quanto retirar determinações acessíveis ao pensamento, colocá-las de modo que a origem não seja o puro nada e retirá-las de modo que ela seja verdadeiramente origem e fonte e não apenas um termo dessa realidade” (“L’idée du néant…”, p. 443).