Julian de Norwich Bondade

Matthew Fox — Contribuição de Julian às necessidades espirituais de hoje
A bondade do Criador e da criação.
Para Julian, a base de Deus não é ele ser a “existência”, como ensinaram Tomás de Aquino e Eckhart, mas ele ser “bondade… Deus é só bondade”. A bondade de Deus “é plena e completa e nela nada falta”. Mas Julian, como Eckhart, vai mais além. Eckhart disse que Deus não só é a “existência”, mas a “existência é Deus”. O mesmo acontece com Julian: “Da maneira como entendo as coisas, Deus é tudo que é bom, e a bondade que tudo tem é Deus”. Temos aqui uma realização metafísica de primeira ordem por parte de Julian. Pois que filósofo dos últimos séculos e quem, no nosso século de desespero, filo:niilismo e múltiplos holocaustos, tem a profundidade e a grandeza de visão para acreditar tanto na bondade da origem de todas as coisas? “A bondade natural é Deus”, declara Julian, “Deus é o fundamento” de toda a bondade.

Porém, a metafísica de bondade de Julian não termina com sua compreensão do Criador. O que é a criação? E boa. “Tudo é bom, exceto o pecado, e nada é mau, exceto o pecado”, declara Julian. Sua espiritualidade não é introvertida, buscando limpar a consciência culpada. Ao contrário, ela se volta para fora e também para dentro e, em toda a parte, encontra bondade. “Sei bem que o céu e a terra e toda a criação são grandes, generosos, belos e bons.” Admira-se da beleza daquela parcela da criação que é a humanidade, quando celebra em versos “nossa nobre e excelente criação”. E transborda de gratidão pela abundância com que o Criador abençoou toda a criação. “A bondade divina enche todas as criaturas de Deus e todas as obras abençoadas de Deus derramam-se sobre elas de maneira plena e interminável.” Até Deus “tem um prazer interminável” com a bondade e a beleza da humanidade, que é “criatura tão bela, tão boa, tão preciosa quanto Deus pôde fazê-la”.

E claro que Julian não aconselha o afastamento da criação para sentir o divino. Com boa razão tem sido dito que seu ensinamento “o reino da criação é o meio natural onde o Espírito rompe com o misticismo neoplatônico”.1


NOTAS:
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  1. Brent Pelphrey, “Review of Julian of Norwich, Showings, 14th Century English Mystics Newsletter” (setembro de 1978), p. 28.