Isaac Sirio Mistico

YSABEL DE ANDIA — MÍSTICOS DO ORIENTE E DO OCIDENTE

Resumo e excertos do capítulo “HESYCHIA E CONTEMPLAÇÃO EM ISAQUE O SÍRIO”, do livro Mystiques d’Orient et d’Occident

Com base na tradução francesa de Jacques Touraille, Isaac le Syrien Oeuvres spirituelles, corrigindo a tradução de nous de “inteligência” para “intelecto”, é feito uma apanhado de citações muito bem comentadas sobre o tema da hesychia em Isaque, o Sírio.

A PÉROLA
Assim como um homem fortemente domina seu intelecto até que complete a ação, do mesmo modo o trabalho venerável da hesychia é um porto dos mistérios.
Assim como o piloto de um navio tem os olhos fixados nas estrelas, do mesmo modo o monge, em sua contemplação interior, ao longo de todo seu caminho, está atento à meta que se fixou em seu intelecto, no primeiro dia que resolveu ir no mar tão árduo da hesychia, até que tenha encontrado a pérola pela qual mergulhou nas profundezas insondáveis do mar.

Esta imagem parabólica da pérola Isaque toma emprestado dos Hinos da Pérola de Efrem e de Jacques de Saroug. 1
O nadador mergulha nu no mar, até que tenha encontrado a pérola. Da mesma forma o monge atravessa nu esta vida, até que tenha encontrado nele mesmo a pérola, Jesus Cristo. E quando a encontrou, não busca mais possuir o que quer que seja de outra coisa que ela. A pérola se guarda nos tesouros. E os deleites do monge se mantém dentro da hesychia.

A hesychia é o tesouro onde o monge guarda a pérola que encontrou: o Cristo.

A HESYCHIA — SOBRIEDADE E VIGILÂNCIA
A HESYCHIA É A PRINCÍPIO A RENÚNCIA AO MUNDO E O REPOUSO EM DEUS
A alma que ama Deus encontra em Deus somente seu repouso. Comeces por liberar-te de toda ligação exterior e poderás ligar teu coração a Deus. Pois é preciso se desprender da matéria do mundo antes de se unir a Deus. Quando é separado do leite que se dá a comer o pão à criança. Assim também o homem que quer se abrir ao divino deve a princípio se desprender do mundo, como a criança dos braços e dos seios de sua mãe.
Ame te retirar da criação na hesychia mais que saciar aqueles que têm fome no mundo… É melhor para ti ter a alma em paz na harmonia da trindade que está em ti — quero dizer a alma, o corpo e o espírito — do que o acalmar por teu ensinamento àqueles que machucam. Gregório diz que é bom estudar a teologia, mas que é melhor se purificar pelo e para o amor de Deus. É melhor falar pouco e ter verdadeiramente conhecimento e experiência, do que deixar escoar de toda força de tua inteligência o ensinamento como um rio. É mais importante para ti aplicar-te conduzindo teus pensamentos nas coisas de Deus elevando tua alma caída sob as paixões, que ressuscitar os mortos.

A hesychia é preferível a toda obra de bem, nutrir os corpos ou os espíritos, e a toda obra de poder, como ressuscitar os mortos. A experiência das coisas de Deus está acima de tudo e exige que lhe sacrifique tudo.

DONDE A NECESSIDADE DE SE LIBERAR DE TODAS AS PREOCUPAÇÕES
Não se deve misturar o trabalho da hesychia à preocupação dos outros — dizia um ancião. Que todo trabalho seja honrado em sua ordem própria, a fim de que não nossa vida não esteja na confusão. Aquele que tem a preocupação por muitas coisas delas é escravo. Mas aquele que tudo abandonou e só se preocupa do estado de sua alma, este é o amigo de Deus.
Outra é a obra do Evangelho, e outra a ação da hesychia. Se queres guardar a hesychia, seja como os Querubins que não têm qualquer preocupação pelas coisas desta vida. E considera que nada há na terra que tu e Deus no qual pensas, como te ensinaram os padres antes de ti.

Imagem do monge-querubim que nos transmitiu um apoftegma de Abba Bessarion:
Abba Bessarion, prestes a morrer disse: “O monge deve ser como os querubins e os serafins: unicamente olho.”

Isaque dá como modelo do hesicasmo Abba Arsênio que pelo amor de Deus fugia dos homens: “Espera, padre, disse um monge, pois pelo amor de Deus corro atrás de ti”. Mas ele respondeu: “E eu pelo amor de Deus, fujo de ti!” E Isaque após citar este apoftegma diz:
Um outro, pelo amor de Deus, recebia todo dia todos os estrangeiros que vinham vê-lo e lhes falava. Mas Arsênio, por outro lado, escolheu o silêncio e a hesychia. Eis porque no meio do mar da vida que passa, falava com o Espírito divino e vagava com a maior serenidade sobre o navio da hesychia, como a coisa foi revelada aos ascetas que perguntaram por ele junto a Deus. Pois tal é a condição da hesychia: o silêncio longe de tudo.

O SILÊNCIO É O VERDADEIRO AFASTAMENTO DO MUNDO
Ame o silêncio mais que tudo. Pois te permite portar o fruto. A língua é incapaz de explicá-lo. Esforcemo-nos a princípio por nos calarmos. É pelo silêncio que vai nascer em nós o que nos conduzirá ao silêncio. Que Deus te dê então o sentir que nasce deste silêncio. Se ages assim, não saberia te dizer que luz se levantará sobre ti”.
Quando é dito que os padres e os irmãos vieram ver o maravilhoso Arsênio, que este os recebeu em silêncio e deles se despediu em silêncio, não creiais, ó irmão, que fez isso só por sua vontade. Ele se calava porque nisso se esforçava desde o começo… A graça lhe ensinou uma via: o silêncio contínuo. Da ascese do silêncio com o temo nasce no coração um prazer que força o corpo a permanecer pacientemente na hesychia. E nos vêm lágrimas abundantes. Então na pena, depois na exaltação, o coração sente então que discerne no fundo da contemplação maravilhosa (vide diakrisis). Ele se afina e se torna como uma criança. E quando se põe a orar as lágrimas correm. Grande é o homem que, na paciência de seus membros, está maravilhosamente habituado a só estar no interior de sua alma. Se pões sobre o prato de uma balança todas as obras da vida monástica, e sobre outro o silêncio, verás que este pesa mais.

  1. Vale lembrar também o HINO DA PÉROLA dos Atos de Tomé[]