A propósito do simbolismo da letra hebraica iod figurada no interior do coração, assinalamos que, no coração irradiante do mármore astronômico de Saint-Denis d’Orques a chaga tem a forma de um iod, e essa semelhança é por demais evidente e significativa para não ser intencional. Por outro lado, numa estampa desenhada e gravada por Callot para uma tese defendida em 1625, vê-se o coração de Cristo com três iod. Essa letra, que é a primeira do Nome tetragramático (v. Tetragrama) e também aquela a partir da qual se formam todas as demais letras do alfabeto hebraico, quer apareça sozinha para representar a Unidade divina, quer venha repetida três vezes com uma significação trinitária”, será sempre essencialmente a imagem do Princípio. O iod no coração é portanto o Princípio que reside no centro, seja, do ponto de vista macrocósmico, no “Centro do Mundo”, que é o “Santo Palácio” da Cabala, seja, ainda, do ponto de vista microcósmico, e ao menos virtualmente, no centro de todo ser, centro este simbolizado sempre pelo coração nas diferentes doutrinas tradicionais, e que constitui o ponto mais interior, o ponto de contato com o Divino. De acordo com a Cabala, a Shekinah ou “Presença divina”, identificada à “Luz do Messias”, habita (shakari) ao mesmo tempo no tabernáculo, denominado por essa razão mishkan, e no coração dos fiéis.8 Existe uma relação muito estreita entre essa doutrina e a significação do nome Emmanuel, aplicado ao Messias e interpretado como “Deus em nós”. Mas, a esse respeito, há ainda muitas outras considerações possíveis, sobretudo se partirmos do fato de que o iod possui, além do sentido de “princípio”, também o de “germe”: o iod no coração é portanto, de certo modo, o germe envolvido pelo fruto. Há nisso a indicação de uma identidade, ao menos sob um certo aspecto, entre o simbolismo do coração e o do “Ovo do Mundo”, e podemos assim compreender o porquê do nome “germe” [ou “rebento”] ser aplicado ao Messias em diversas passagens da Bíblia. E é sobretudo a ideia de germe no coração que deve agora nos reter a atenção, ainda mais porque ela tem relação direta com a significação profunda de uma das mais célebres parábolas evangélicas, a do grão de mostarda. [Guénon]