Intelecto e Razão em Agostinho

INTELECTO E RAZÃO


Jean Borella
Excertos de La Charité profanée
Tradução Antonio Carneiro

Santo Agostinho apresenta-nos esta distinção com toda clareza desejável. Sua doutrina é simples: se o conhecimento humano começa pela razão que procura, termina pelo intelecto que encontra. “A razão é um movimento capaz de distinguir e de ligar nossos conhecimentos entre eles.” Mas : “um é o intelecto, outro a razão”. O “intellectus” ou “intelligentsia” (“o intelecto ou inteligência …”), com efeito, é a faculdade superior da alma humana, diretamente iluminada pela luz divina: “ Tem-se assim em nossa alma alguma coisa que se chama intelecto. E esta parte da alma que se chama intelecto ou espírito, é ela mesma iluminada por uma luz superior. Ora essa luz pela qual o espírito é iluminado, é Deus.”

Às vezes, Santo Agostinho distingue uma razão inferior e uma razão superior. Esta é, então, um outro nome do intelecto. Esta denominação se justifica porque, como dissemos, a razão não está separada do intelecto, já que recebe a luz dos primeiros princípios. Por outro lado, assim como a razão é submissa ao intelecto, o intelecto é submisso à luz divina. Entretanto, conviria melhor dizer que a razão é submissão ativa ao intelecto, isto é, que existe razão quando a atividade mental se submete aos princípios do conhecimento, mas, ela pode desobedecer enquanto que o intelecto é, por natureza, submisso passivamente à verdade, que não pode não refletir. “O exercício da razão superior é, então, essencialmente submissão do indivíduo àquilo que o ultrapassa e adesão ao pensamento à origem da luz que ilumina todos os pensamentos”. Em suma, a razão se distingue do intelecto como a ciência (em vista da ação) se distingue da sabedoria (em vista da contemplação): “Se, então, existe uma exata distinção de sabedoria e da ciência, saber, que à sabedoria pertence o conhecimento intelectivo das coisas eternas, enquanto que à razão pertence o conhecimento racional das coisas temporais, não é difícil de julgar qual é a primeira e qual é a segunda”.

Original

Saint Augustin nous présente cette distinction avec toute la clarté désirable. Sa doctrine est simple : si la connaissance humaine commence par la raison qui cherche, elle se termine par l’intellect qui trouve. « La raison est un mouvement capable de distinguer et de relier nos connaissances entre elles. » Mais : « autre est l’intellect, autre la raison ». L’intellectus ou intelligentsia (« l’intellect ou l’intelligence… »), en effet, est la faculté supérieure de l’âme humaine, directement illuminée par la lumière divine : « Il y a ainsi dans notre âme quelque chose que l’on appelle intellect. Et cette partie de l’âme, que l’on appelle intellect ou esprit, est elle-même illuminée d’une lumière supérieure. Or, cette lumière par laquelle l’esprit est illuminé, c’est Dieu. »

Parfois saint Augustin distingue une raison inférieure et une raison supérieure. Celle-ci est alors un autre nom de l’intellect. Cette dénomination se justifie parce que, comme nous l’avons dit, la raison n’est pas séparée de l’intellect, puisqu’elle en reçoit la lumière des premiers principes. D’autre part, de même que la raison est soumise à l’intellect, de même l’intellect est soumis à la lumière divine. Cependant, il conviendrait mieux de dire que la raison est soumission active à l’intellect, c’est-à-dire qu’il y a raison lorsque l’activité mentale se soumet aux principes de la connaissance, — mais elle peut désobéir — tandis que l’intellect est, par nature, soumis passivement à la vérité, qu’il ne peut pas ne pas refléter. « L’exercice de la raison supérieure est donc essentiellement soumission de l’individu à ce qui le dépasse et adhésion de la pensée à la source de lumière qui éclaire toutes les pensées. » En somme, la raison se distingue de l’intellect comme la science (en vue de l’action) se distingue de la sagesse (en vue de la contemplation) : « Si donc il existe une exacte distinction de la sagesse et de la science, savoir, qu’à la sagesse appartient la connaissance intellective des choses éternelles, tandis qu’à la raison appartient la connaissance rationnelle des choses temporelles, il n’est pas difficile de juger laquelle est la première et laquelle est la seconde. »