MESTRE ECKHART — DO HOMEM NOBRE V
“Um homem se foi”, disse Nosso Senhor. Um “homem”! Se adotamos o sentido apropriado da palavra latina, o termo designa, pelo menos de acordo com certa interpretação, a quem se submete inteiramente a Deus, com tudo o que tem, que eleva os olhos a Deus em vez de abaixá-los ao que possui e que sabe que está atrás e debaixo de si; esta é a perfeita, a verdadeira, humildade. Seu nome vem da terra (não direi mais nada aqui). Porém a palavra “homem” significa igualmente algo que está acima da natureza do tempo, de tudo o que é espaço ou matéria, de tudo o que está submetido ao tempo e tem o sabor da instabilidade, tanto espacial quanto corporal.
Porém quando o homem progredir mais ainda, nada terá em comum com a não existência. Em primeiro lugar, no sentido de que não está formado segundo tal ou qual modelo, que não se assemelha senão à totalidade, que nada conhece do vazio e passageiro, que nele não se mostra nem o menor rastro da não existência, que não se vê nele senão o ser puro, verdade, bondade. E quem se tornou assim, somente ele, é um homem nobre, e ninguém senão ele.