Assim, começando no ano de 1612 e até seu fim, no ano de 1624, Boehme escreveu muitos livros sobre as coisas que viu à luz de seu próprio espírito divino, compreendendo trinta livros cheios dos mais profundos mistérios a respeito de Deus e dos anjos, de Cristo e do homem, do céu e do inferno e da natureza, e das coisas secretas do mundo, tais como, antes dele, nenhum homem foi conhecido por ter comunicado a este mundo pecaminoso; e tudo isto fez, não com o propósito de ganho terreno, mas para a glorificação de Deus e para a redenção da humanidade da ignorância em relação às coisas do Espírito.
Ensinou uma concepção de Deus que era grandiosa demais para ser compreendida pelo clero de mente estreita, que viu sua autoridade enfraquecida por um pobre sapateiro e que, portanto, se tornou seu inimigo implacável; pois o Deus que concebiam era um Ser limitado, uma Pessoa que, no momento de Sua morte, havia entregue Seus poderes divinos nas mãos do clero, enquanto o Deus de Jacob Boehme ainda estava vivo e enchendo o universo com Sua glória. Boehme diz:
“Reconheço um Deus universal, sendo uma Unidade, e o poder primordial do Bem no universo; auto-existente, independente de formas, não necessitando de localidade para sua existência, incomensurável e não sujeito à compreensão intelectual de qualquer ser. Reconheço que esse poder é uma Trindade em Um, cada um dos Três sendo de igual poder, sendo chamados de Pai, Filho e Espírito Santo. Reconheço que esse princípio trino preenche ao mesmo tempo todas as coisas; que foi e continua sendo a causa, o fundamento e o princípio de todas as coisas. Acredito e reconheço que o poder eterno desse princípio causou a existência do universo; que seu poder, de maneira comparável a um sopro ou fala (o Verbo, o Filho ou Cristo), irradiou de seu centro e produziu os germes a partir dos quais crescem as formas visíveis, e que nesse sopro ou Verbo exalado (o Logos) estão contidos o céu interior e o mundo visível com todas as coisas existentes neles.”