Gregorio Nissa Designio Nota

Gregório de Nissa — O Desígnio de Deus — Nota Explicativa

D. Joaquim de Arruda Zamith, O.S.B.
Após a publicação, por Werner Jaeger, do texto crítico do “De Instituto Christiano” entre as obras de Gregório de Nissa, em 1952, esse texto passou a merecer bem maior atenção por parte dos estudiosos em Patrologia ou Espiritualidade Monástica. Era antes conhecido apenas no texto incompleto da Edição de Migne.

Segundo J. Daniélou (St. Grégoire de Nysse, pg 139), o opúsculo constitui “uma pequena suma da vida cenobítica”. Oferece uma visão completa do ideal ascético em forma concisa e metódica. Composto nos últimos anos da vida do autor (entre 390 e 394), contém a quintessência do seu pensamento sobre a vida espiritual, chegado à plena maturidade. Quanto ao seu conteúdo, o mesmo Gregório no-lo indica, na introdução: conforme o desejo dos monges que o pediram, tratará a obra, primeiramente, do objeto verdadeiro (scopos) da vida monástica e dos principais meios para alcançá-la; mostrará, em segundo lugar, as razões pelas quais convém que vivam em comunidade perfeita os que abraçam esse estado de vida, segundo as exigências do cenobitismo, com particular insistência no papel que devem exercer os superiores da comunidade; finalmente, — e esta é a sua contribuição mais característica — exporá quais são os exercícios básicos que preparam suas almas para a recepção do Espírito. Esta última parte nos permite vislumbrar a experiência mística do autor, exposta, em parte, em obras anteriores, porém despojada aqui de todo aparato de símbolos de que nelas se revestia. Gregório de Nissa acentua a oração e professa com íntima convicção o ideal contemplativo, talvez porque o julgue necessário, já que a contemplação era atacada por alguns, em conseqüência dos excessos dos messalianos”.

W. Jaeger considera o “De Instituto Christiano” a obra na qual a teologia da Igreja oriental atingiu o ponto culminante, na sua tendência de encontrar um perfeito equilíbrio entre a graça e o esforço humano (o.c. pg III).

Outro autor, cuja autoridade é bem reconhecida em assuntos referentes à Teologia Patristica — Louis Bouyer — salienta também a importância do mesmo Opúsculo com as seguintes palavras: “A introdução desse tratado nos dá um excelente exemplo da habilidade com que Gregório de Nissa utiliza conceitos platônicos (a saber, todo um esquema de conceitos relacionados entre si) para exprimir um pensamento fundamentalmente cristão. Segundo o titulo grego, o que o autor se propõe fazer ó encontrar o “skopos katá Teón”(fim segundo Deus) da vida cristã e, especificamente, da vida monástica. Essa idéia do escopo, do fim a atingir na vida ó fundamental no platonismo e, sem dúvida, já aparece no pensamento de Sócrates. A ela se relaciona toda a metafísica do “eros” no Banquete: o “eros” impulsionando a alma para o fim que dá sentido à sua natureza.”

Werner Jaeger situava a composição do “De Instituto Christiano” nos últimos anos da vida de Gregório, pelo menos após a “Vida de Moisés”, várias vezes nele utilizada. Tendo publicado a obra de Gregório, não poderia Jaeger deixar de compará-la com o texto completo da chamada “Grande Carta” de Macário, descoberto por H. Dorries, alguns anos antes. Jaeger a considera posterior ao “De Instituto Christiano”, tendo este texto servido até de modelo para ela.

Devido às dificuldades de se situar a origem, bem como o autor verdadeiro da “Grande Carta” e, apesar da opinião contrária de vários patrólogos, pode-se dizer, com Mariette Canévet que a tese de Jaeger, embora hoje contestada, não foi refutada. (Assim também J. Gribomont: St. Basile, Evangile et Eglise, t.l pg. 86, nota 20). A questão é demasiado complexa para ser solucionada atualmente. E acrescenta: “esta controvérsia em nada diminui o valor da obra (De Instituto Christiano) que continua sendo um dos textos mais fundamentais sobre a vida espiritual e monástica.

A nossa tradução seguiu mais de perto o texto de Madre Elisabeth de Solms, em constante referência também aos textos das traduções de C. Bouchet e V. W. Callaham.

BIBLIOGRAFIA
Vincent Desprez, Introduction à Pseudo-Macaire, Oeuvres spirituelles, SC 275, pg 46. Paris, Cerf

Jean Daniélou, “Saint Grégoire de Nysse” dans l’Histoire du Monachisme — in “La Théologie de la Vie Monastique”. Aubier, 1961

L. Bouyer, “La Spiritualité du Nouveau Testament et des Pères,” t.l de l’Histoire de la Spiritualité Chrétienne. Aubier, 1960, p. 430-434

G. Colombas, El Monacato Primitivo — BAC, vol. II, p. 60. Madrid, 1975

M. Canévet, Grégoire de Nysse — DS VI (1967), p. 971-1011

M. Connor, The”De Instituto Christiano” — reflections on contemplativa community” an Interdisciplinary Symposium Cistercian Publ. Washington DC 1972. pg. 47-59

Jean Gribomont, “Saint Basile. Évangile et Égiise” 31. Abbaye de Bellefontaine, 1984
TEXTOS
De Instituto Christiano — Migne, PG 46, p. 287-305
De Instituto Christiano — in Gregorii Nysseni opera omnia — Ed. W. Jaeger, VIII, 1. Leiden, 1952, p. 40-89
TRADUÇÕES (sobre o texto de W. Jaeger)
St. Gregory of Nyssa — Ascetical Works Fathers of the Church Series, vol 58 (tr.V.W.CalIaham) Washington DC Cath Preis 1967, p 127 -158
Grégoire de Nysse — Le But Divin, De Instituto Christiano — Tr. Mère Élisabeth de Solms, Les Maîtres de Vie Spirituelle -Ed. Tequi, Paris, 1986
Grégotre de Nysse — Écrits spirituels, tr. de Christian Bouchet — Les Pères dans la foi. Ed. Brépols, Paris, 1990