Gregório de Nissa — O Desígnio de Deus — O início da vida cristã: fé e batismo
O Início da vida cristã: fé e batismo
Sabemos muito bem que, entre vós, a regra da piedade consiste na ortodoxia da doutrina da fé. Esta define que há um só Deus na bem-aventurada e eterna Trindade. Não sujeito a qualquer mudança, deve ser pensado e adorado como uma só essência, uma só glória e uma idêntica vontade em suas três hipóstases (pessoas).
De numerosas testemunhas recebemos essa confissão de fé e nós a professamos também na força do Espírito, que nos lavou na fonte do sacramento.
Sabemos que essa piedosa e verdadeira profissão de fé, firmemente estabelecida em vossas almas, ó comum a nós e a vós. Conhecemos o vosso entusiasmo na ascensão de vossas ações para o bem e a bem-aventurança. Por esse motivo, limitar-nos-emos a vos escrever apenas algumas breves sementes de instrução. Nós as escolhemos entre os escritos que nos foram dados pelo Espírito e muitas vezes citamos as próprias palavras da Escritura para confirmar o que dissemos e, assim, tornar claro o modo como o entendemos.
Mostraremos, desse modo, não estar rejeitando a graça do alto para nos apoiarmos em nossas próprias e ilegítimas elucubrações intelectuais, inferiores e sem valor. Estaríamos então eivados de presunção, forjando exemplos de piedade com elementos de estranhas filosofias, introduzidos em nossos escritos.
Assim, pois, aquele que deseja dirigir para Deus sua alma e o seu corpo segundo a lei da piedade, deverá render-lhe um “culto puro e incruento”, tomando como guia de sua vida aquela fé piedosa, anunciada pelas palavras dos santos através de toda a Escritura; ele, com espírito obediente e dócil, entregar-se-á à corrida da virtude, libertando-se de toda servidão às coisas baixas e vãs. Por fim, entregar-se-á totalmente, por sua fé e sua vida, somente a Deus. Ele sabe que, onde se encontram a fé, a piedade e uma vida irrepreensível, estará aí presente o poder de Cristo; e onde se encontra o poder de Cristo, aí se verifica a derrota de todo mal e da morte que nos rouba a vida.
Porque os vícios nào possuem em si poder algum capaz de competir com o poder do Mestre, mas naturalmente se desenvolvem onde há desobediência aos seus mandamentos. Foi o que experimentou outrora o primeiro homem, e experimentamos todos nós, quando imitamos a sua desobediência, por obstinada decisão.
Ao contrário, aqueles que se aproximam do Espírito com reta disposição e guardam a fé com plena certeza são purificados pelo poder do Espírito e nenhuma mancha permanece em suas consciências. Afirma o Apóstolo: “Nosso evangelho vos foi pregado não somente com palavras, mas com grande poder no Espírito e com toda a convicção, como sabeis”(1 Ts 1,5). E ainda: “Que vosso espírito, alma e corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5,23). Ele que, pelo batismo, concedeu o penhor da ressurreição àqueles que o merecem, a fim de que o talento confiado a cada um obtenha-lhe, pelo seu trabalho, a riqueza invisível.