Gregório do Sinai — Seleção de Jean Gouillard
Como fazer a oração (euche)
“Semeia a tua semente — a oração (euche) — desde a manhã, e não deixes tuas mãos ociosas até a noite” — para não interromper a continuidade da oração (euche) e para não correr o risco de perder a hora do acolhimento — “porque não sabes o que terá bom êxito, se isto ou aquilo” ( Ecl 11,6 ).
Desde a manhã, senta-te num banco baixo, de meio côvado ( medida antiga que corresponde a 66 cm ) mais ou menos, faz recuar da razão para o coração (kardia) o teu espírito; conserva-o ali, enquanto, penosamente curvado, com dor intensa no peito, nos ombros e na nuca, clamarás com perseverança em teu espírito ou em tua alma (psyche): “Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim!” Depois, por causa da sujeição, da dificuldade e, talvez, do tédio resultante da continuidade ( não, sem dúvida, por causa da refeição única e invariável do triplo nome, pois “os que me comerem ainda terão fome” ), transportarás teu espírito para a segunda metade, dizendo: “Filho de Deus, tende piedade de mim!” Repete essa metade muitas vezes e toma cuidado para não mudar a miúdo, por indolência, pois as plantas transplantadas em demasia não pegam mais.
Domina a respiração do pulmão, de medo a não respirar à vontade. Porque a tempestade das respirações, que sobe do coração (kardia), turva o espírito e agita a alma (psyche); torna-a distraída, entrega-a, cativa, ao esquecimento, ou então faz com que recorde toda espécie de coisas, uma atrás da outra, e lança-a insensivelmente no esquecimento. Se vires surgir e tomar forma, em teu espírito, a impureza dos maus espíritos ou dos pensamentos, não te perturbes; se conceitos bons das coisas se te apresentarem, não lhes dês atenção (epimeleia). Mas, tanto quanto puderes, retém a respiração, fecha no coração (kardia) o teu espírito e, sem trégua nem descanso, invoca o Senhor Jesus, e tu os consumirás e reprimirás sem demora, flagelando-os invisivelmente pelo Nome divino, conforme a palavra de João Clímaco.