Gregório de Nissa — DO SERMÃO SOBRE O NATAL DE CRISTO (P.G. 46, 1128ss)
Tradução de C. Folch Gomes
O nascimento virginal do Senhor
Ouve a exclamação de Isaías: “um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado!” (Is 9,5). Aprende do mesmo profeta como isso aconteceu. Foi acaso segundo a lei da natureza? De modo algum, responde o profeta. Pois não está sujeito às leis da natureza aquele que é o Senhor da natureza. De que maneira então nasceu esse filho? “Eis — diz o profeta — uma virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual receberá o nome de Emanuel”, que significa “Deus conosco” (Is 7,14; Mt 1,23). Ó acontecimento admirável! Uma virgem se torna mãe permanecendo virgem! Considera a nova ordem da natureza. Qualquer outra mulher, se permanece virgem, não pode certamente tornar–se mãe; tornando-se mãe, já não possui a virgindade. Neste caso porém as duas qualidades se mantêm. A mesma pessoa é mãe e virgem. A virgindade não a impediu de gerar, o parto não lhe tirou a virgindade. Era digno que, vindo para fazer os homens integres e incorruptos, o Salvador fizesse seu ingresso na vida humana a partir da integridade total, consagrada a ele sem reserva. . .
E isto parece-me que o grande Moisés tenha conhecido antecipadamente, através da luz na qual se lhe manifestou o Senhor Deus e quando a sarça ardia incandescente mas não se consumia (Ex 3,2). “Irei e verei este grande espetáculo”, disse ele, referindo-se, penso eu, não a uma aproximação local mas a uma aproximação no tempo. O que então estava prefigurado no fogo e no arbusto tornou-se, no momento oportuno, claramente revelado no mistério da Virgem. Da mesma forma que a sarça ardente não se consumia, também a Virgem não se corrompeu gerando a Luz.