Gouillard Oração Respiração Invocação

Jean Gouillard — PEQUENA FILOCALIA
A respiração e a invocação do nome na Oração do Coração
1. Uma fase propriamente psicotécnica, caracterizada por uma disciplina respiratória cujo objeto é fixar a atenção e unificar as faculdades. O indivíduo “reconduz o espírito ao coração” e “une-o à alma”. Variantes de fórmulas clássicas cujo equivalente se reencontraria, por exemplo, em Clímaco (“Habituei-me a recolher os pensamentos e o espírito com a alma”, Degrau 4) e bem antes dele. O pseudo-Simeão chama a isso “guardar o coração pelo espírito” e Gregório convida a “reconduzir o espírito da razão (isto é, operações discursivas) para o coração”.

Como? Dizem que é sincronizando a entrada do espírito no coração com a inspiração do ar; ralentamos e espaçamos essa inspiração, de maneira a conseguir comandá-la inteiramente. Segundo Gregório, o Sinaíta, a expiração equivale a certa calma e dissipação da atenção.

O exercício exige determinadas atitudes, infelizmente pouquíssimo detalhadas, na nossa opinião. Todos estão de acordo ao recomendar um lugar tranquilo e solitário, a posição sentada e os olhos fechados. Simeão diz, de maneira precisa, que se deve apoiar o queixo sobre o peito e fixar o olhar no umbigo. Gregório recomenda um assento baixo, atitude curvada, e insiste na dor que esta não pode deixar de provocar na nuca e nos ombros.

Os dois primeiros falam com equivalência da exploração do coração e das entranhas, em termos que fazem pensar nos métodos dos sufistas; no fim desta antologia, encontra-se uma amostra sugestiva desses métodos. Gregório, que parece ter menor inclinação pela expressão fisiológica, fala em pôr-se em busca da energia do coração. Ele gosta da palavra “energia”, que para ele designa essencialmente a atividade divina na alma humana restaurada pelo batismo; é preciso alcançar e liberar inefavelmente essa atividade, dela tomando consciência, na oração.

Essa unificação do espírito, penosa no início, produz pouco a pouco um sentimento de maravilhosa felicidade e uma experiência luminosa de si próprio e de Deus, através de si mesmo (pseudo-Simeão).

2. Uma fase de ordem muito mais elevada e quase sacramental, a invocação do nome de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim”. Observe-se que ela nunca está separada da primeira fase, mesmo em Nicéforo ou no pseudo-Simeão que, no entanto, parecem reconhecer, no método respiratório, efeitos independentes e muito característicos, como acabamos de ver. Ou a disciplina respiratória é ordenada à oração de Jesus, que ela prepara, instaurando a unidade das potências, ou então é simultânea a ela e forma como que a sua trama psicofisiológica.