Segundo Relato 3,6

Paul NothombO SEGUNDO RELATO

Gen 3,6 E a Mulher viu que a árvore era (boa) a comer e delícia, ela, para os olhos, e desejável a árvore para desenvolver a inteligência, e ela tomou de seu fruto e comeu deu também a seu companheiro (ish) com ela, e ele comeu.

Tal é a cena famosa da desobediência, da rebelião contra Deus, do «pecado original» tão frequentemente ilustrado pela iconografia cristã, como se se tratasse de uma verdadeira árvore, de um verdadeiro fruto, de uma verdadeira serpente, no momento onde a Mulher estende ao Homem o objeto do delito, que precipitar a Humanidade inteira na Queda.

Ou como o indica o texto, esta cena se passa inteiramente na cabeça da Mulher, em seu olhar. Ela tem uma espécie de alucinação intensa, onde ela vê subitamente o que ela deseja ver e que na Realidade não existe. Ela vê a árvore, que está «no interior do jardim» logo invisível, ela a vê três vezes. Duas vezes ela a nomeia H ‘(TS) (pronunciado «haets») a «árvore» o que pode designar de maneira coletiva o conjunto das árvores do jardim ou uma árvore em particular. Ela vê que é boa a comer (como se pode ver que é boa a comer aquilo que jamais se saboreou?) e a assimilando às árvores comestíveis. Ela a proclama «ela» uma delícia para os olhos e volta do pronome ao nome em a declarando desejável para desenvolver a inteligência LHSSKYL («leaskil»), e seu desejo se tornando a seus olhos uma nova «realidade», ela toma o que ela crê o fruto desta «árvore» imaginária — que só existe ao nível do texto e de sua significação — ela «come» e «dá» também a seu companheiro com ela e ele «come». Não está escrito «dela» dá, «dela» come. Pois literalmente ela come, ela dá e ele nada come. Nada do que existe na Realidade do Éden. Ela fantasma e por contágio seu companheiro ‘Y (SH) H (pronunciado «isha, seu ish a ela) mudo, fantasma de concerto e eles inventam juntos, pode-se dizer neste momento, o que se deve denominar, em relação à Realidade do Éden, nossa Irrealidade.

Pois tanto a serpente entornando como a Mulher ao redor do «nome de código» ‘(TS) HD ‘T TWB WR’ sem ousar a citar em sua integralidade, símbolo da Realidade do Éden, a amputa de sua primeira parte em omitindo cuidadosamente de pronunciar a palavra ‘(TS), na medida que a Mulher que se exprime no discurso indireto se detém em sua cabeça sobre esta palavra ‘(TS) e omite, ela, ao contrário de fazer alusão à segunda parte HD ‘T TWB WR’, salvo indiretamente com LHSSKYL. Se têm o ar de se opor, a serpente e a Mulher logo se reúnem na quebra da árvore-código denominada também «Árvore da Omnisciência». Cada um retém uma metade: a serpente, a Omnisciência e a Mulher, a árvore. Mas isso vem a ser o mesmo. Não é de um lado o triunfo da abstração preconizada pelo espírito lógico, nem de outro a escolha da vida pela vida. Já o Homem masculino cedendo ao espírito lógico, à generalização absoluta, se pensou como um tipo de «espécie», à qual pertencia seu «alter ego». Ele tina nomeado não segundo ele mas segundo esta categoria genérica,em que se perfilava. Mas a Mulher também não escolheu senão uma via truncada. Seu desejo do «fruto» traiu sua preferência secreta por um tempo cíclico do modelo vegetal ao invés do modelo astral que é aquele da imortalidade. Por sua vez ela se pensa como membro de uma «espécie», perecível certo mas «eterna» por sua repetição aparentemente sem fim. Composição e decomposição orgânicas que convêm às existências sem consciência, mas que nos seres conscientes significam nascimento e morte. Sofrimento e agonia. A Mulher disto se dá conta? Sem dúvida não, nem o Homem. Mas suas vontades se adicionando exprimem aquela do Homem Uno, imortal e livre Criado por Deus. Livre para renegar sua natureza, senão mudá-la. E é isso que, do fato de seu gesto comum, de comer «nada» mas simbolicamente fora da árvore unitária ao nome de código da Realidade do Éden, disto os priva subitamente, com se não mais a vissem.